Vou dar um exemplo bem fácil, que tem seus defeitos.
Quando você, por algum motivo, entra em um estado de muita felicidade, êxtase, o êxtase em si não é algo que você possa dimensionar. É uma experiência sua, que quando você fala dela, ela já não é a mesma coisa. As pessoas podem ver você por fora, mas elas não estão, em hora nenhuma, tendo essa experiência. Então, grosso modo, seria uma analogia do que é o Dharmakaya.
Quando alguém que é muito empático, que consegue ver você sem muitos véus, quando ele vê você em um estado de alegria, ele consegue se comunicar com você, você consegue transmitir e comunicar coisas a ele fora de uma dimensão grosseira. É como se fosse uma comunicação empática entre um e outro. Alguém que realmente está experimentando esse estado de alegria e outra pessoa que já sabe como é isso, ou que tenha entendido bem isso, e que tenha um amor e carinho muito grande por você, ela consegue como que receber essa energia, se comunicar mais intimamente, mais profundamente. Esse aspecto de comunicação de estado de total desfrute que você passa, ele não é medido por tempo, ele é atemporal, … ele só brilha. Isso, analogicamente, poderia ser chamado de Sambhogakaya. É chamado do corpo do deleite, do grande desfrute, porque não é contaminado por nada. Esse desfrute, essa comunicação, advém diretamente do estado do Dharmakaya.
Mas você tem um corpo físico, e a maioria das pessoas não tem essa empatia e essa comunicação com você. Não consegue ver você além dessa coisa física. Porque essas pessoas que conseguem ter empatia, que conseguem ver além da sua forma física, quando você está assim, elas vão te achar maravilhoso, você vai aparecer para elas linda, esplendorosa, magnífica. Você pode ser uma pessoa feia, deformada, qualquer coisa que seja, fora do padrão. Mas, quando você transmite esse estado de realização, de êxtase, a pessoa que é empática com você, que não tem muita barreira com você, o que ela vai ver ali é um ser lindo, fulgurante, que não cabe naquilo. Ela vai ver você além do que você aparenta ser. Mas, alguém que não tem empatia com você, que vê você normalmente, vai ver só uma pessoa pulando, alegre, vai ver você num corpo normal, ela não vai ver você além disso. O que vai acontecer é que você, através dessa alegria, desse total estado de bem-aventurança e êxtase, você vai começar a agir diferente. Você vai ter uma pele mais bonita, vai estar sorrindo, vai expressar cada vez melhor aquilo que está lá dentro, através de ações, palavras, postura, e aquilo vai demonstrar algo para esses seres que não conseguem ter aquela empatia profunda, que não conseguem se comunicar com você além da manifestação física. Esse seria o Nirmanakaya.
O quarto kaya, o Svabhavikakaya, ele apenas demonstra que essas três dimensões não são uma à parte da outra. Elas se manifestam, acontecem, dentro uma da outra. Elas são dimensões dentro de uma mesma realidade, que são percebidas por seres diferentes. Uma é experimentada, vamos dizer assim, por aquele que a realizou, que é o Dharmakaya, só ele pode perceber e estar pleno daquilo. A segunda é o Sambhogakaya, que é percebida por aqueles que têm empatia — no caso, os bodhisattvas —, que já purificaram muitos véus, tanto cognitivos quanto o véu emocional, que não veem mais as coisas como elas se apresentam. A empatia, a visão, devido à bodhicitta do bodhisattva, faz com que ele veja muito além. E o corpo normal é o que as pessoas comuns veem.
Então, o Buddha Shakyamuni era assim. Ele era iluminado, Dharmakaya. Uma manifestação disso, era vista por quem se comunicava num nível totalmente purificado, os bodhisattvas, Tchenrezig, Manjushri, Maitreya, Shariputra, quando começavam a ouvir o Buddha com esse aspecto de empatia fora das limitações grosseiras que nós temos. E todos os outros seres comuns, quando olhavam para o Buddha, viam alguém de carne, que comia e respirava.
Então, essa é uma forma um pouco melhor de podermos entender esses três aspectos, esses três kayas.
-Trecho extraído de um ensinamento do Lama Karma Tartchin sobre a Prece de Aspiração de Mahamudra.
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