A Índia é a fonte do Budismo no Tibete e a maioria dos ensinamentos foram traduzidos do sânscrito e outras línguas indianas para o tibetano. Então, para honrar isto, no início de cada texto tibetano budista, o título é primeiramente escrito em sânscrito, seguido pelo tibetano. Isto é feito para relembrar de onde o Dharma vem e apreciar este fato. No momento em que os textos foram traduzidos, havia normalmente um grande pândita da Índia e um tradutor tibetano trabalhando juntos neles. Durante o primeiro período de tradução, todos os textos eram traduzidos desta forma e editados por grandes mestres. Eles tiveram tremendo cuidado ao produzir os textos. E, durante o período final [1] também tiveram muito cuidado com a tradução, viajando para a Índia e fazendo muita edição e correção.
O Kangyur [2] não foi publicado imediatamente. O professor de Chim Jampal Yang (mchims ‘jam-dpal dbyangs) [3] fez a primeira coleção do Kangyur e ele foi manuscrito. Por ter sido mantido em uma sala do templo chamada Jam Lhakhang no Monastério Narthang, esta edição mais tarde tornou-se famosa como Lhakang Kangyur, às vezes chamada de Old Narthang Kangyur.
Após algum tempo Tibete, o precioso Kangyur foi produzido por xilografia ou uso de blocos de madeira em Jang, patrocinado pelo Rei de Jang. O principal editor do Jang Kangyur foi o Sexto Shamarpa Após algum tempo no Tibete, o [4]. Mais tarde ele foi chamado de Litang Kangyur, porque a xilografia foi armazenada em Litang. O Jang Kangyur foi o primeiro Kangyur tibetano publicado no Tibete e isto ocorreu durante a era do Imperador Yung Lo da Dinastia Ming. Talvez este tenha sido o primeiro Kangyur tibetano a ser editado por alguns dos grandes mestres da Karma Kamtsang. A publicação do Kangyur contou com grande contribuição de grandes mestres da Karma Kamtsang.
Como eu disse antes, quando nós solicitamos aos budas e bodhisattvas que girem a roda do Dharma, se nós não tivermos tomado cuidado com os ensinamentos que eles nos deram, e então continuar solicitando ensinamentos, isto soa bastante estranho. Se nós não praticarmos o que eles já ensinaram e nós lhes pedirmos que nos ensinem o que ainda não foi ensinado, isto é um pouco excessivo. E geralmente, em consideração ao Kangyur e ao Tengyur, nós apenas os colocamos entre duas tábuas, os amarramos muito bem, os colocamos no templo e os trancamos. Às vezes agimos como se não tivéssemos que lê-los, mas como se apenas precisássemos preservá-los no templo como objetos de culto. Se isto se torna a norma, então há perigo de o Dharma se perder.
Anteriormente no Tibete havia uma tradição de ensinar os sutras, porém mais tarde, os shastras (bstan bcos) [5], os comentários de grandes mestres, foram bem mais estudados. E então os mestres tibetanos escreveram e ensinaram comentários e esses se tornaram os livros básicos que foram estudados. Deste modo, gradualmente, os ensinamentos diretos do Buda foram estudados cada vez menos. É óbvio que os comentários dos mestres tibetanos sejam talvez mais claros e fáceis de entender, mas os trabalhos dos mestres indianos, e especialmente os ensinamentos diretos do Buda, são a fonte principal e portanto eles devem ser estudados. É bom investigar os comentários e entendê-los, mas é muito estranho nós não estudarmos o Kangyur. Então, as shedras e monastérios devem ler, estudar e se tornarem familiares com os ensinamentos diretos do Buda como uma fonte principal. Se nunca se observam os ensinamentos diretos do Buda, não é possível entendê-los muito bem.
Como foi dito pelo grande Drikungpa [6], “Se os ensinamentos não forem baseados no Kangyur, então este é um trabalho de Mara”. Se os ensinamentos são apoiados meramente nas experiências de nossos professores, é possível, nestes tempos degenerados, que alguns lamas deem ensinamentos que não estão realmente de acordo com os ensinamentos do Buda ou do Kangyur, mas sim instruções que foram fabricadas por eles mesmos. É bem possível que isto ocorra. Se nós pudermos comparar os ensinamentos de nossos lamas com os ensinamentos diretos do Buda, então seremos capazes de entender se os ensinamentos deles são genuínos ou não. Nós seremos capazes de autenticá-los baseados no Kangyur.
Então o Buda disse, “Durante o tempo de degeneração, eu aparecerei como letras e textos.” Então, todos aqueles ensinamentos são uma emanação do Buda e temos que vê-los como objetos de refúgio. Uma vez que nós não experimentamos a verdade do caminho ou a verdade do nirvana, neste momento os ensinamentos [das escrituras] é o guia real ou a lâmpada que dispersa a escuridão [da ignorância].
Portanto, nós temos uma grande oportunidade de ler o Kangyur agora e também no futuro. No que tange às shedras, elas devem facilitar o estudo do Kangyur, seu exame e pesquisa. Por exemplo, quando falamos sobre o Vinaya e estamos discutindo a miríade de princípios do Vinaya, tais como se a ordenação de Gelongma deveria estar presente ou não, se nós na verdade tivermos que ler os treze volumes do Vinaya, então muitas das coisas que estão nos confundindo se tornariam muito claras. O que não entendemos se tornará claro, e é isto que quero que vocês todos mantenham em seus corações. Em essência, o Kangyur é a raiz de nosso Dharma, a fonte de nossos ensinamentos, e o guia verdadeiro do que fazer e do que não fazer. Com este entendimento, por favor, recitem o Kangyur [7].
[if !supportFootnotes][1][endif] snga ‘gyur foi o tempo das primeiras ou antigas traduções durante os reinos dos grandes reis do Dharma Trisong Detsong e Ralpachen. phyi ‘gyur, foi o tempo das últimas traduções, começando com os grandes tradutores Rinchen Zangpo e Marpa Lotsawa.
[if !supportFootnotes][2][endif] Kangyur (bha’ ‘gyur) ou “Comentários do Kangyur” ou os ensinamentos diretos do Buda, seus discípulos mais próximos, faladas com permissão, e outros seres iluminados. É também chamado Kangyur Rinpoche ou o “Precioso Kangyur”.
[if !supportFootnotes][3][endif] Também conhecido como o Grande Chim Manjushri. Ele foi um dos maiores mestres iniciais do Abhidaharma e escreveu o primeiro comentário tibetano no Tesouro do Abhidharma.
[if !supportFootnotes][4][endif] O Sexto Shamar, Chokyi Wangchuk, um grande erudito e siddha, foi o principal discípulo do Nono Karmapa, Wangchuk Dorje.
[if !supportFootnotes][5][endif] Os shastras estão reunidos em uma coleção chamada Tengyur, “os Tratados Traduzidos”.
[if !supportFootnotes][6][endif] O Grande Drikungpa foi também conhecido como Kyopa Jikten Sumgon. Ele foi um discípulo de Pakmo Drupa e fundador da linhagem Drikung Kagyu.
[if !supportFootnotes][7][endif] Durante a Kagyu Monlam em Bodhgaya, Índia, o Kangyur inteiro é recitado durante uma sessão pela assembleia.
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