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O que é um Reino Puro?



Há inúmeros reinos, tanto puros quanto impuros, que resultam tanto da forma baseada na aparência dos Buddhas como também da forma baseada na aparência confusa dos seis tipos de seres sencientes e esses inumeráveis reinos não são lugares diferentes, inerentemente puros ou impuros. Não é o caso de alguns lugares que sejam objetivamente puros é que todos os experimentarão como realmente puros e outros que sejam objetivamente impuros sejam experimentados como impuros. A razão de haver inúmeros reinos é que há incontáveis seres e cada um deles têm sua própria percepção kármica individual e como resultado disso, cada um percebe seu ambiente de uma maneira singular. Dessa forma, os reinos puros são as experiências dos Buddhas que não têm obscurecimentos e os reinos impuros são experiências dos seres sencientes, que possuem obscurecimentos.


O primeiro e o maior dos reinos puros é o Akanishtha Dharmadhatu ou "O Reino Mais Elevado que é a Natureza de todas as Coisas". Esse reino permeia tudo. A extensão desse reino é a extensão do espaço. Onde houver espaço ele é parte do reino de Akanishtha. Dessa forma,aqueles que têm percepção pura, aqueles que têm todo o karma purificado que corrompe ou obscurece a percepção, têm a experiência de qualquer ambiente como sendo puro, como o palácio da divindade. Eles experimentam todo o conteúdo deste ambiente, o que quer dizer que eles têm a experiência de qualquer ser senciente, como sendo as divindades de cada um dos reinos. Ele experimenta as coisas desse modo porque todos os lugares em sua natureza são parte de Akanishtha.


O Vajrayana explica isso extensivamente, especialmente nos ensinamentos de Dzogtchen, onde frases como "pureza ilimitada", "pureza primordial consumada" e assim por diante são usadas. Para entendermos o sentido disso devemos saber que as coisas são experimentadas como são, elas são um reino puro e as divindades existem. Assim, para aqueles com percepção perfeitamente pura, não há samsara a ser experimentado. Em suas experiências nem mesmo existe a palavra sofrimento. Assim, pode-se dizer que todo o espaço e tudo que é permeado por ele é permeado pelo corpo, palavra e mente de todos os Buddhas. Isso pode ser também entendido nos termos dos reinos distintos de corpo, palavra e mente, mas em essência esses reinos de corpo, palavra e mente têm a mesma natureza. Isso é chamado de "o segredo do corpo, palavra e mente" que quer dizer "o todo permeante corpo, palavra e mente de todos os Buddhas". "Todo permeantes" significa que eles permeiam todos os fenômenos. Isso é explicado no "Sutra que explica os segredos". Não é apenas a totalidade do espaço permeada por reinos puros, mas há inumeráveis reinos puros dentro desses mesmos reinos. Em cada pequena partícula, há tantos reinos puros quanto partículas existentes. Assim, o número de reinos puros é inconcebível e incalculável. Em cada um desses reinos, os vitoriosos e seus filhos estão girando o Dharmachakra.


Quando tentamos imaginar que há tantos reinos puros em cada uma das partículas existentes, entre outras coisas, imaginamos que esses reinos devem de alguma forma obstruir uns aos outros, que isso seja completamente populado, mas não é assim. A razão por acharmos inconcebível esse tipo de coisa é porque nos fixamos na aparente realidade das aparências substanciais, mas as coisas nunca são como nós as experimentamos. Desde o princípio, as coisas têm tido formas vazias e assim não obstruem umas às outras.


Por exemplo: é muito possível que os bilhões de mundos que constituem nosso sistema, poderiam ser contidos dentro de uma semente de mostarda, sem que tal semente ficasse maior do que é ou os tais bilhões de mundos se tornarem menores do que são. Isso é como o famoso caso de Djetsun Milarepa sentar-se dentro de um chifre de um iaque sem ficar de modo algum apertado. Isso é inconcebível para nós, por parecer violar o modo que experimentamos o mundo, mas o que isso viola é a nossa percepção da substancialidade aparente dos fenômenos. Isso é a natureza miraculosa de todos os Buddhas e dessa forma todo o espaço e tudo que é por ele permeado são densamente preenchidos com reinos puros. Isso é como uma vagem de gergelim aberta que quando se abre conseguem-se muitas sementes. Da mesma maneira, o espaço é preenchido com reinos puros. Eles não têm número; você não pode dizer que essa é a quantidade de reinos puros e que não há mais do que isso. Em cada um desses reinos puros há Buddhas vitoriosos e seus filhos, os Boddhisatvas.


Pelo fato dos reinos puros serem inumeráveis, os Buddhas e os Boddhisatvas são inumeráveis e é assim que os Buddhas experimentam o mundo.



O REINO IMPURO DOS SERES SENCIENTES


Quanto a nós, seres sencientes, como experimentamos o mundo, o vivenciamos de uma maneira individual dependendo de nosso karma. Há seis maneiras de como os seres experimentam o mundo que é constituído de seis tipos de seres sencientes. Para um ser de qualquer um destes tipos, aqueles do mesmo grupo vivenciam tanto o ambiente e o sofrimento de um modo parecido. Nesse contexto é importante entender que a experiência do ambiente e a do sofrimento pelos seres nos reinos do inferno, dos pretas e dos animais é pelo menos tão sólida e substancial como nossa experiência no reino humano.


Porque nós não podemos perceber esses reinos, nós os imaginamos como sendo um sonho ou insubstancial, mas eles não são de um todo um sonho. De alguma forma, eles ainda são mais intensos, mais sólidos e menos mutáveis que o nosso reino. Isso é assim porque a confusão e o karma que causam apercepção desses reinos são mais intensos. O grau de aparente solidez e intensidade desagradável de um reino corresponde ao karma que causa essa percepção. Para os seres do reino dos infernos e dos pretas seu meio ambiente é tão real, tão sólido e aparentemente tão objetivamente real como o reino humano é para nós.


Na percepção de um ser senciente de qualquer um dos seis reinos, seu reino, sua experiência surge completamente sólida e objetivamente existente, mas isso é devido ao poder de seu próprio karma. Nesse momento, para os seres humanos nesse sistema de bilhões de mundos, do qual fazemos parte, nosso kalpa parece estar em declínio. Um kalpa é o quanto dura um sistema de um bilhão de mundos e nesse kalpa há um período onde os mundos ainda não existem, um período de desenvolvimento, um de estabilidade, um de declínio e um de destruição. Nosso kalpa parece estar agora na fase de declínio, mas para alguns seres sencientes esse reino parece ter terminado. Este bilhão de mundos já parece destruído, parece vazio de existência e de seres.


Para outros seres esse bilhão de mundos é percebido como começando a existir. Alguns seres percebem o que nós percebemos como terra, como sendo espaço e o que percebemos como espaço, eles percebem como terra. Isso não significa que eles simplesmente vêem as coisas ao contrário. Significa que, a qualidade real do que é substancial e insubstancial está invertida para eles. Também há seres que percebem para cima o que nós vemos como pra baixo e vice-versa. Desse modo, as variedades individuais de percepção, que é correspondente ao karma acumulado pelos seres, inumeráveis e inconcebíveis em suas variedades. Em cada caso, o que esse ser percebe parece ser real e, dentro do contexto da percepção dele, você poderia dizer que é real. É real para eles como o resultado do karma deles e vai permanecer assim até que o karma que os fazem perceber as coisas desse modo seja extinto. Isso é explicado com maiores detalhes no Ratnakuta Sutra, ou Sutra das Jóias Empilhadas.


Nesse nosso bilhão de mundos em particular, todos os seres humanos deste mundo basicamente experimentam as coisas do mesmo modo. Isso acontece porque todos nós acumulamos karma similar no passado, levando-nos a renascer na mesma espécie com o mesmo tipo de percepção. O que nós percebemos como terra é percebido basicamente por todos os seres humanos como terra. O que nós percebemos como pedra é percebido basicamente por todos os seres humanos como pedra. O que nós percebemos como espaço é percebido basicamente por todos os seres humanos como espaço e assim por diante.



REINOS PUROS NO LESTE, SUL E NORTE


Nas seções anteriores, explicamos dois tipos de reinos: O reino nirvânico ou reino puro e o reino samsárico ou reino impuro. O que segue está previsto no contexto que nós já estabelecemos, em outras palavras, a explicação das direções, localização e assim por diante, está dentro do contexto de nossa percepção.


Para o Oeste desse mundo, onde nós estamos, há o reino puro chamado Manifestadamente Jubiloso ou Abhirati. Esse reino puro é regido pelo Buddha Akshobhya. Akshobhya tem muitos nomes: Algumas vezes ele é chamado de Vajrasattva, outras vezes de imperturbável e também de inalterável ou Akshobhya. De qualquer modo, esses nomes se referem ao mesmo buddha. Para oeste deste local, está o reino chamado Radiância de Bendhurya. Esse reino é regido pelo Buddha da Medicina. Você notará que há oito Buddhas da Medicina.


Os outros sete também possuem seus próprios reinos puros, os quais geralmente se acredita estarem ao leste, próximos do reino puro do principal Buddha da Medicina. Estes não são os únicos reinos puros ao leste, mas são os mais conhecidos. Ao Sul do nosso mundo, está o reino puro chamado Glorioso ou Possuindo o Esplendor e Satisfação da Glória. Esse reino é regido pelo Buddha Ratnasambhava, que é também conhecido como Pico Precioso.


Ao Norte daqui, está o reino chamado Completude Gloriosa da Atividade, o qual é regido pelo Buddha Amoghasiddhi, que é também chamado de Completo ou o Grande Desabrochar das Flores. Considerando tais reinos como direções, como o leste, sul e norte, esses são três tipos de reinos puros, o que significa que eles são puros de sofrimentos e kleshas. Nos termos de suas classificações especificas, eles são normalmente chamados “reinos sambhogakayas menores”, o que realmente significa que eles são reinos nirmanakayas maiores.


Você os pode considerar como reinos sambhogakayas menores porque eles são puros e assim classificados como sambhogakayas ou pode considerá-los como reinos nirmanakayas maiores porque nesse caso maior também significa puro. De qualquer modo, para renascer em qualquer desses reinos do leste, sul ou norte, você deve ter atingido o primeiro bhumi de bodhisattva. Você não pode renascer nesses reinos a menos que você tenha gerado bodhichitta, percorrido os primeiros estágios do caminho e atingido o primeiro nível de bodhisattva. Isso foi explicado por Matchig Labkyi Dronma, que está de acordo com a afirmação do Buddha no sutra que explica o reino de Akshobya.



DENSAMENTE ORNAMENTADO


Outro reino puro de sambhogakaya é aquele normalmente pensado como o mais elevado reino de Sambhogakaya. Ele é chamado de Densamente Ornamentado e é geralmente imaginado como estando diretamente acima de nós, no centro. Esse reino puro é de extensão imensurável; você não pode dizer que ele abarque certa quantidade de espaço e nada além disso.


Ele é chamado de Densamente Ornamentado porque ele é muito ornamentado, rico e adornado. No meio deste reino há o palácio precioso e, da mesma forma que o reino, tal palácio é imensurável; você não pode afirmar exatamente o quanto ele é grande ou pequeno. No meio deste palácio, sentado em um trono de leão, lótus, sol e lua, está o corpo de todos os Buddhas – em outras palavras, o Buddha Vairochana, que nesse contexto também pode ser considerado como o aspecto sambhogakaya de Avalokiteshvara, ou Tchenrezi.


De alguma forma, diferentemente dos três reinos mencionados anteriormente, esse é um reino sambhogakaya completo, o que significa que ele possui as cinco certezas. Cinco certezas significa as cinco coisas que são sempre verdadeiras em relação a tal reino. A primeira certeza é certeza do lugar. Esse reino é o reino sambhogakaya mais elevado, o Akanishtha, que é densamente ornamentado. Ele nunca muda e nunca se torna outra coisa. A segunda é a certeza do corpo que significa que o Buddha Avalokiteshvara – Vairochana, que rege esse reino, possui as marcas e sinais da perfeição física. A terceira é a certeza da duração, o que significa que esse reino vai continuar a existir até o samsara terminar. A quarta é a certeza do séquito o que significa que todos os seres nascidos nesse reino são bodhisattvas em um dos dez bhumis (mais tarde o texto será mais especifico. Ele dirá que para nascer neste reino, você deverá ter atingido o oitavo nível de bodhisattva). A quinta certeza é a certeza do Dharma. O Dharma ensinado nesse reino é sempre o veículo Insuperável do Mahayana.


Além disso, ele não é ensinado oralmente ou verbalmente, ele é ensinado através de símbolo. Em geral, isso é explicado dizendo que os bodhisattvas neste reino entendem o significado do Mahayana apenas ao ver a forma do Buddha regente em tal reino. Isso quer dizer que o significado é transmitido pela visão da aparência, implementos desse Buddha e assim por diante. Isso de fato significa que a sabedoria do Buddha comunica por si só, nesse reino, espontaneamente, através da mente e da sabedoria inata desses bodhisattvas. Esse tipo de comunicação ou transmissão é o que o ensinamento do Dzogtchen,descreve como “linhagem e sabedoria dos vitoriosos” e a “linhagem de símbolo dos vidyadharas”.


Há inumeráveis reinos nirmanakaya dentro de cada um dos poros da pele do Buddha neste reino central. Em cada um desses reinos nirmanakaya há uma emanação nirmanakaya desse Buddha, que beneficia os seres dentro desses reinos. Este reino de sambhogakaya central é chamado um “reino sambhogakaya maior”. Tudo isso é explicado no tantra no despertar manifesto de Vairochana. Para comparar esse reino ao nosso, o objeto principal que o Buddha Vairochana detém em tal reino, é a tigela de esmolar. Crescendo de dentro da tigela de esmolar estão inumeráveis flores de lótus e em cada uma dessas flores há muitos reinos. Em um dos caules, crescendo no centro dessa tigela, há vinte e cinco flores desabrochando uma de dentro da outra. Em cima de cada uma dessas vinte e cinco flores, há muitos reinos. Em particular, em cima do décimo terceiro lótus, no topo dos estames, no centro da flor, há muitos sistemas de mundos. Em cima ou dentro de um dos estames, no meio dessa flor especifica, está o sistema de um bilhão de mundos, do qual nosso mundo faz parte. Um sistema de um bilhão de mundos significa um bilhão de Montes Meru, cada um dos quais esta rodeado por quatro continentes. Um sistema de um bilhão de mundos é o campo da atividade de um nirmanakaya.


Assim sendo, nesse sistema de um bilhão de mundos, surgiram um bilhão de Buddhas Shakyamuni, como o que surgiu nesse mundo para ensinar os sutras, e um bilhão de Padmakaras, igual àquele que surgiu nesse mundo para ensinar os tantras. Por exemplo, Guru Rinpotche surgiu na Índia e lá beneficiou os seres, foi para o Tibete para esconder seus ensinamentos e tesouros, estabelecendo uma linhagem pura e assim por diante e, enquanto lá estava, simultaneamente fazia o mesmo no restante dos bilhões de mundos deste sistema. Essa é a fonte para a nossa compreensão de que há um bilhão de Karmapas. Há um Gyalwang Karmapa em cada um desses bilhões de mundos, assim como tem um Gyalwang Karmapa no nosso.


A despeito do fato de que, em certo sentido, nosso reino está contido em um reino puro, ele não é um reino puro por si só e assim, qualquer um pode nascer aqui. Os mais elevados entre nós, aqueles que são puros de obscurecimentos, podem nascer aqui e o mais inferior entre nós também pode nascer aqui. Tudo isso está explicado no Sutra do Arranjo dos Caules. No Tibete isso foi particularmente explicado pelo rei Songtsen Gampo e Guru Rinpotche. Temos visto nosso próprio sistema de mundo, no meio desse reino puro.


Agora vamos voltar para o próprio reino puro central. Este reino puro central, o Densamente Ornamentado, só pode ser experenciado pelos bodhisattvas do oitavo, nono e décimo níveis. Mesmo entre bodhisattvas, é necessário atingir o oitavo nível para se renascer lá. Isso também foi explicado pela Dakini de sabedoria Matchig Labkyi Dronma. Sua explicação está de acordo com o entendimento usual da realização dos caminhos e estágios no Mahayana pelos bodhisattvas. Em outras palavras, no contexto Mahayana, faz sentido que um bodhisattva de primeiro nível possa nascer nos outros reinos e apenas bodhisattvas de oitavo nível possam nascer neste reino.



CAMPO MORTUÁRIO DAS MONTANHAS DE FOGO FLAMEJANTE


Esse reino puro é proximamente relacionado ao reino puro central Densamente Ornamentado. Ele é mais precisamente explicado em dois lugares: os tantras que ensinam a grande perfeição ou Dzogtchen que nesse caso é chamado de Campo Mortuário das Montanhas de Fogo Flamejante e também é explicado no tantra de Mahakala Thrakso Kholma e nesse caso ele é chamado de Glorioso Campo Mortuário de Vairochana. Em ambos os casos, o modo que esse reino puro específico é explicado é como se segue. Ele é localizado no céu a frente de Vairochana. O chão ou a terra nesse reino é totalmente venenoso e só dá surgimento a plantas venenosas e espinhosas. Ao longo do dia, um vento igual a um furação ou tornado está constantemente soprando e à noite ele é preenchido com montanhas de chamas, por isso este nome. Todas as montanhas desse reino são montanhas de ossos humanos, pilhas de esqueletos. Todas as árvores e florestas são armas, isso quer dizer que todas as folhas e frutos nessas árvores são iguais a laminas e assim por diante. Toda a água nos rios e lagos está repleta de sangue e pus e é agitada por várias ondas. O reino está cheio de animais predadores que vagueiam por ele.


No centro desse reino tem um palácio feito de crânios humanos e a aparência e a disposição desse palácio é exatamente o que você visualiza quando faz a prática de uma divindade irada. O Buddha que rege esse reino é chamado Jonnu Pawo Tobden, que significa O Poderoso Guerreiro Jovial. Em essência, ele é o Heruka supremo, Tchem Tchog Heruka, com seu séquito de cinco Herukas das cinco famílias. Ele é ainda rodeado pelas dakinis e divindades iradas. Nesse reino ele sempre ensina o insuperável dharmachakra do mantra secreto; ele nunca ensina o sutra. Igualmente ao reino Densamente Ornamentado que está abaixo dele, o Campo Mortuário de Montanhas Flamejantes é imutável; e permanecerá sempre assim.


Para nascer nesse reino, você precisa ter obtido um dos quatro níveis de um vidyadhara; isso quer dizer que através do caminho do mantra secreto, você obtém um dos estágios de realização do mantra secreto. É impossível lá nascer não somente para seres humanos comuns, mas também para qualquer praticante do mantra que não obteve um dos quatro níveis. Mesmo que eles sejam praticantes do mantra, caso eles vissem esse reino por um instante, ficariam aterrorizados, perderiam a consciência e tentariam fugir. Especialmente nos dias de hoje, aqueles que nasceram nesse reino obtiveram o estado de vidyadhara e se especializaram na liberação dos seres através de meios enérgicos e irados. Esse é o reino dos grandes vidyadharas. Toda a sabedoria e atividade dos protetores do Dharma estão nesse reino. É onde habitam suas bases de emanação.


Há lugares em nosso mundo que estão de alguma forma conectados com o Campo Mortuário das Montanhas de Fogo Flamejante. Normalmente é dito que esses locais são atingidos por raios de luz que vêm desse reino. Isso inclui Shitavana e os outros entre os oito campos mortuários. Por eles serem reflexos indiretos desse reino eles partilham de suas características, em menor grau. Assim sendo, os protetores emanados habitam em nosso mundo nestes campos mortuários. Suas bases de emanação habitam no reino do Campo Mortuário das Montanhas de Fogo Flamejantes, mas as emanações aqui habitam.


Aqueles que praticam o mantra secreto apropriadamente e intensamente, mas que ainda violam samayas em algum grau, tendem a nascer no séquito dos protetores que habitam nos oito campos mortuários ou em Shitavana. Os violadores que são liberados através da atividade dos protetores que não podem nascer nos reinos puros devido ao karma, mas não renascerão nos reinos inferiores devido às bênçãos dos protetores, nascem nos campos mortuários no séquito de emanação dos protetores. Isso é claramente explicado em uma das profecias de Guru Rinpotche, que é chamada de Profecias do Selo de Comando.



TUSHITA


Até esse ponto, tem sido dada uma descrição básica dos reinos puros. Os reinos completamente puros que tem sido descritos até agora são aqueles do Leste, Sul e Norte, assim como o Reino Puro Central, o Densamente Ornamentado e o reino puro chamado Campo Mortuário das Montanhas de Fogo Flamejante. É quase impossível para uma pessoa comum renascer neles; é bom saber a respeito deles, mas não se deveria necessariamente aspirar a renascer nesses reinos. Agora nós vamos para uma descrição dos vários reinos que nós podemos vir a nascer.


No contexto de nosso sistema de um bilhão de mundos, o quarto dos reinos dos deuses do desejo, de baixo para cima, é chamado de Tushita ou Jubiloso. Ainda que estritamente falando que Tushita está dentro do reino do desejo, ele também é a residência do Bodhisattva Maitreya, que é o regente sucessor do Buddha Shakyamuni.


Antes do Buddha Shakyamuni nascer no nosso mundo, ele residia em Tushita e, quando de lá saiu, indicou Maitreya como seu sucessor. Maitreya ainda está e permanecerá lá até nascer em nosso mundo e se tornar o quinto Buddha. Aqueles que têm disciplina moral, samaya puros e se esforçam principalmente no ouvir e contemplar ao invés da prática de meditação tendem a aspirar renascer em Tushita. Aqueles com total pura disciplina moral e o hábito de ouvir e refletir, renascerão em Tushita se eles fizerem a aspiração intensa de lá renascer. Tão logo suas aspirações cessem na hora da morte, dentre as sobrancelhas de Maitreya, sairá um facho de luz branca e tocará o topo da cabeça do moribundo como se fosse um arco-íris. Essa luz envolverá a mente ou consciência da pessoa e a guiará para Tushita, onde ela renascerá em um pedestal de lótus ou dentro de um lótus, no meio de um palácio divino dentro desse reino. Tendo lá nascido, pela duração de todo seu tempo, será continuamente servido por não menos que sete deusas e, é claro, o lorde Maitreya estará ensinando continuamente o Dharma em Tushita.


Até aí tudo bem, mas há alguns problemas com esse reino. O primeiro problema é que a despeito da presença de Maitreya, ele é um reino dos deuses do desejo. Ele é cheio de diversão e, devido ao fato de ser constantemente servido por estas sete deusas, há a tendência de ser distraído pelo prazer e atmosfera de festa – todos estão cantando, dançando e se divertindo ao redor. Se alguém que obteve realização anteriormente escolheu renascer lá, esse não será um problema para ele; mas se meramente tinha uma pura disciplina moral e conhecimento, mas não realização, provavelmente se tornará tão distraído que não vai despender muito tempo, se algum, ouvindo Maitreya.


Enquanto estiver lá, ficará mais interessado em se divertir.Todavia, tendo lá nascido como resultado da aspiração em conexão com Maitreya, no futuro quando Maitreya nascer em nosso mundo, esse indivíduo e todos os outros que nasceram em Tushita, por essa aspiração, mais uma vez renascerão como seres humanos. Uma vez mais tomará a ordenação monástica, ouvirá os ensinamentos de Maitreya e pelo ato de ouvir e refletir e a força de sua disciplina moral – porque disciplina moral é a única causa do nascimento humano – renascerá vez após outra como um ser humano em nosso mundo pela duração da doutrina do Buddha Maitreya. Manterá sua doutrina através de todas essas vidas. Continuará a nascer como ser humano pelos períodos de ensinamento de cada um dos mil buddhas desta era. Encontrará cada um deles, ouvirá seus ensinamentos e continuará a renascer como humano vida após vida.


Após os mil buddhas desta era terem passado e no futuro, durante a era chamada de Estrelas Arranjadas ou Estrelas Propagadas renascerá novamente, no lugar ou mundo daquela era e encontrará cada um dos oitenta mil buddhas que surgirão em tal era. Verá cada um deles e ouvirá seus ensinamentos e manterá os ensinamentos de cada um deles. Durante tal era, começará a progredir substancialmente no caminho e finalmente, após muito tempo, obterá o despertar perfeito. A razão para tudo isso é que a força por trás da aspiração para renascer em Tushita é o mérito da disciplina moral, o qual faz a pessoa continuar a renascer como humano, e o hábito de ouvir e refletir sobre os ensinamentos.


E finalmente, começará a praticá-los de fato, mas a mudança do simples aprender para o praticar acontecerá de uma forma bem gradual. Isso é porque levará o período de ensinamento de oitenta mil buddhas para se progredir no caminho. Dentro da tradição do budismo tibetano, a aspiração para renascer em Tushita é mais cultivada pelos Guelugpas. Isso acontece devido à ênfase na disciplina moral e o aprendizado e, dessa forma, eles aspiram manter os ensinamentos como detentores da linhagem monástica de todos os buddhas futuros.


Desde que a aspiração para renascer em Tushita resultará nessa habilidade, bem como à realização de imenso benefício para os seres, muitos praticantes dessa tradição costumam fazer essa aspiração. Para fazer essa aspiração, normalmente se canta a Aspiração de Maitreya, a qual é incluída na coleção chamada das Cinco Grandes Aspirações. Isso levará imenso benefício aos seres, mas lhe tomará um tempo extremamente longo para se obter a budeidade. Se a pessoa está desejosa de passar por inumeráveis nascimentos como ser humano para poder ser um detentor dos ensinamentos dos vários buddhas neste mundo, se não tem medo disso, então deveria fazer a aspiração para renascer em Tushita. Para assegurar esse renascimento, deveria recitar a Aspiração de Maitreya todos os dias sem falta. De onde vem essa informação? Ela vem do Sutra Profetizando Maitreya.


Muitas pessoas aspiram renascer em Tushita dessa maneira. Nesse ponto, Tchagme Rinpotche faz um comentário, “Eu fiz isso por sete anos, mas então eu pensei sobre isso e vendo o sofrimento do samsara eu percebi que eu estava totalmente entediado pela ideia de passar por tantos nascimentos e mortes, eu parei de recitar a Aspiração de Maitreya e comecei a recitar a Aspiração para renascer em Sukhavati”. O que ele está dizendo é que se você não está entediado pelos nascimentos e mortes sem fim, então tudo bem em recitar a Aspiração de Maitreya. Se você está preocupado com isso, você pode querer alguma outra coisa.


Em termos de classificação, o reino de Tushita é classificado como um reino nirmanakaya menor, devido à presença de Maitreya. Anteriormente nós vimos que os reinos de sambhogakaya menores – aqueles no leste, sul e norte, por exemplo – são classificados como reinos de nirmanakaya maiores, porque eles são completamente puros. Como ele é parte do reino do desejo, ele é classificado como reino nirmanakaya menor.



GLORIOSA MONTANHA COR DE COBRE


Outro reino que se poderia aspirar está ao sudoeste de nossa localização, com as direções sendo baseadas na passagem do sol através do céu no nosso mundo. Essa é a ilha chamada de Chamaradvipa; ela se encontra ao oeste de Jambudvipa, assim ela é uma ilha satélite de Jambudvipa. No meio dessa ilha e predominando em sua topografia, está uma montanha chamada A Gloriosa Montanha Cor de Cobre. No pico dessa montanha, há um palácio chamado de Palácio da Luz de Lótus, o qual é a residência de Guru Rinpotche. Lá ele vive cercado por centenas de milhares de vidyadharas, dakas e dakinis.


Da mesma forma que muitos dos praticantes Gelugs aspiram renascer em Tushita, muitos dos praticantes nyingma aspiram renascer em Chamaradvipa. A razão disso é óbvia: eles são devotados a Guru Rinpotche e por causa de sua intensa fé nele, eles querem ir onde ele se encontra. Aqui Tchagme Rinpotche faz uma menção “Possuo grande fé em Guru Rinpotche, muitos dos meus próprios professores renasceram lá. Dessa forma, quando eu era jovem, eu aspirava renascer na Gloriosa Montanha Cor de Cobre”. É muito fácil nascer nesse reino. É ainda mais fácil do que renascer em Tushita. Assim se você quer nascer nesse reino não tenha dúvidas de que terá sucesso. Ele não é como os reinos puros do Oeste, Sul e Norte.


“Porém”, Tchagme Rinpotche diz, “quando eu pensei cuidadosamente a esse respeito eu percebi que há dois tipos de nascimentos ou circunstâncias de nascimento que se pode ter. O melhor dos dois é nascer como um vidyadhara, como um daka ou dakini. Por exemplo, muitos dos tertons e siddhas na tradição tibetana tendem a renascer lá. Se você renascer como um daka ou uma dakini nesse reino, então para você ele é um reino puro. Seu corpo será sempre adornado pelos seis ornamentos de ossos e as vestimentas do campo mortuário. Você terá quase que ilimitadas habilidades miraculosas para satisfazer todas as necessidades e estará no séquito de Guru Rinpotche como um de seus atendentes. Os dakas e dakinis no séquito dele são invisíveis para pessoas comuns, porque eles não têm corpos substanciais. Seus corpos são de sabedoria, corpos de luz. Se você conseguir nascer desse modo, então você continuará sua prática do mantra secreto e nele atingirá seu ápice.


Chamadvipa é extremamente prazeroso porque para você ele é um reino puro. Enquanto estiver lá, alcançará rapidamente a budeidade. Se conseguir lá renascer como um vidyadhara masculino ou feminino, como um daka ou uma dakini, então será fantástico. Há outra coisa que pode acontecer. É fácil nascer lá, o que significa que não tem que ter realização para isso. Se você tem realização e nasce lá, nascerá como um vidyadhara masculino ou feminino. Se nascer simplesmente pela sua fé em Guru Rinpotche e não tiver realização, não irá renascer como um daka ou dakini, renascerá como um cidadão comum de Chamadvipa. Os habitantes de Chamadvipa são rakshasas, que são demônios canibais, seres desagradáveis. A despeito de suas aflições mentais nessa vida – e você obviamente tinha alguma, desde que você não obteve a budeidade – rakshasas são muito mais confusos. Seus cinco venenos são muito fortes e a herança genética de se nascer como rakshasas significa que você está cheio de aflições mentais.


No lado bom, você renascerá em Chamadvipa, assim terá algum contato com Guru Rinpotche. Você o verá e ouvirá pelo menos algumas de suas palavras. Devido a ser um rakshasa, você não o reconhecerá como um buddha ou um mahasiddha. Você pensará que ele é meramente o seu monarca. Isso acontece porque quando Guru Rinpotche foi para Chamadvipa, ele tomou o lugar do monarca dos rakshasas, cujo nome é Raksha Thugtching Sarab. Essa é a forma ou aparência que Guru Rinpotche tem naquele reino. Se você nasceu como rakshasa, realmente não saberá que ele é Guru Rinpotche, apenas o verá como o rei dos rakshasas, assim não vai ter muita devoção por ele. O considerará como uma espécie de monarca ditador e provavelmente desobedecerá a seus comandos e suas leis, porque suas leis proíbem muitas das coisas que os rakshasas gostam de fazer. Você ficará contra as leis dele, então será legalmente punido, do que você obviamente se ressentirá. Sentir-se-á revoltado e assim perderá qualquer fé nele que possa ter tido. E mais ainda, por Chamarudvipa ser o satélite de Jambudvipa, a variação de circunstancias tais como abundancia, prazer e longevidade são as mesmas daqui.


Esses são dois dos três possíveis resultados, um destes é bom e o outro não é tão bom. A terceira circunstância, diz Tchagme Rinpotche: Suponha que você tem apenas fé em Guru Rinpotche. Você tem uma verdadeira receptividade para os ensinamentos, o que significa que você praticou intensamente e manteve sua samaya imaculada. Então você pode lá nascer e de fato experienciar Guru Rinpotche como um professor, não apenas como um rei e receberá suas bênçãos e iniciações. Então outra coisa poderá acontecer. Ele pode ordenar que você volte para cá. Tem-se sabido que ele disse a figuras históricas que conseguiram lá renascer, “agora, não permaneça aqui. Volte para o Tibete (ou qualquer lugar) e pratique o Dharma; será de mais benefício para os seres”.


Nessa situação, mesmo ainda que, você queria lá permanecer, não pode. Você tem que voltar para Jambudvipa. Nesse ponto, Tchagme Rinpotche diz “eu estou tão entediado por todos os esses nascimentos e mortes que eu não aspiro renascer lá por causa da possibilidade de me tornar um rakshasa ou de qualquer modo ser mandado de volta. Se você” (se referindo a Tsondru Gyamtso e por extensão a todos os outros) “não está entediado pela possibilidade de muitos nascimentos e mortes e você tem grande devoção em Guru Rinpotche e está seguro que obedecerá aos seus comandos, se você lá nascer, mesmo se nascer como rakshasa, então de todas as maneiras faça a aspiração para renascer na Gloriosa Montanha Cor de Cobre”. Sobre sua classificação, esse é um reino Nirmanakaya menor, igual à Tushita.


O que finalmente acontece aos seres nascidos em Chamarudvipa por aspiração é que após vivendo e morrendo eles continuarão a renascer em qualquer lugar onde seus karmas os levem, enquanto este kalpa durar. Eles podem seguir a emanação de Guru Rinpotche de um lugar para outro em seus renascimentos, ou podem ser levados pelos seus karmas. E isso vai durar pelo tempo desse kalpa.


Finalmente eles renascerão em Sukhavati, porque Guru Rinpotche é a emanação da mente de Amitabha. O destino final das pessoas nascidas em Chamaradvipa é Sukhavati, mas somente após muitos nascimentos e mortes sucedidos. A fonte dessa informação, diz Tchagme Rinpotche, são as biografias secretas dos tertons, dos siddhas e de Guru Rinpotche assim como as perguntas e respostas de Langdro Lotsawa. Normalmente essas questões são referidas pelo nome de quem questiona, assim essas são provavelmente questões que Langdro Lotsawa perguntou a Guru Rinpotche.



POTALA


Outro reino puro que muitas pessoas aspiram a renascer é o de Potala, que é considerado o reino de Tchenrezi. As pessoas que aspiram renascer em Potala são praticantes de Tchenrezi, pessoas que enfatizam em suas práticas pessoais a recitação do mantra de seis sílabas, OM MANI PEME HUM. Elas fazem a aspiração de renascer em Potala porque muitas vezes, isso é ensinado nas liturgias da prática. Por exemplo, na prática de Tchenrezi com a qual muitos de vocês estão familiarizados há um refrão que se repete: “Que nós possamos renascer no reino de Potala, que eles possam renascer no reino de Potala”. Potala é em sânscrito, em tibetano é Riwo Drudzin, o que significa Montanha Drudzin.


De fato, isso é uma montanha e desse modo diz Karma Tchagme que no final das contas não é de fato um reino puro. Isso é meramente uma montanha neste mundo, no sul da Índia. Se aqueles com percepção pura vão para o pico dessa montanha, eles verão um palácio precioso. Dentro deste palácio, sentado em um lótus, sol e um disco de lua, eles verão o bodhisattva Tchenrezi, rodeado pelos vidyadharas, dakas e dakinis bem como devas e nagas. No lado da montanha, a meio caminho, eles verão outro palácio onde habitam as divindades Tronyer Tchenma e Hayagriva. Na base da montanha, em outro palácio, eles acharão Tara Branca, Tara Verde e assim por diante.


Se aqueles com percepção impura lá chegarem, eles verão uma montanha arenosa com algumas florestas de sândalo em suas encostas e no topo um templo de pedra auto surgido “que provavelmente é uma caverna”. Dentro eles verão uma imagem auto surgida do Bodhisattva Tchenrezi na sua forma Khasarpani parecido com um garoto de oito anos e atrás dele uma rocha azul (o texto diz que é uma rocha de vaidurya), na qual a forma auto-surgida do mantra de seis sílabas aparece como se fosse prata. Tchagme Rinpotche diz que você, de fato pode ir lá em peregrinação e verá tudo que puder ser visto com percepção impura; mas se tiver percepção pura, você verá este lugar como puro. A evidência disso está nas biografias do Upasaka, Tchakyi Kangpatchen e do Terton Ringtchen Lingpa.



REINOS PUROS TERRESTRES


Outro reino dentro deste mundo que os praticantes de Chakrasamvara e Vajravarahi costuma

aspirar renascer é Uddiyana, que fica no Oeste. Mesmo nos dias de hoje, tais praticantes aspiram renascer em Uddiyana. Este também não é um reino puro; é simplesmente um lugar nas montanhas. Se você tem karma puro e for para lá, verá um campo mortuário, um palácio e no centro deste um Chakrasamvara pai e mãe, rodeado por centenas de milhares de dakas e dakinis. Se tem karma impuro, você verá um templo de pedra auto-surgido, que contém os tantras ensinados pelo Buddha na forma de um tesouro velado, porque é onde os tantras de fato foram descobertos por vários siddhas.


É dito que é habitado somente por mulheres; é suposto que lá não haja nenhum homem. Também se diz que todas as mulheres são dakinis. Assim como Chamaradivpa, há dois tipos de nascimento que você pode vir a ter. Se você tem realização, terá um nascimento puro e renascerá como um daka ou uma dakini no séquito de Chakrasamvara e Vajravarahi; de outro modo apenas renasceria neste lugar.


Praticantes de Manjushri costumam ter a aspiração de renascer em Wutai Shan na China, a montanha que é considerada o lar de Manjushri. Aqueles conectados com a prática de Chakrasamvara aspiram a renascer em Tsarithra na fronteira do Tibete com a Índia. Algumas pessoas também aspiram renascer no reino que é o Monte Kailash. Se você tem uma percepção pura, todos os lugares então são palácios puros com divindades, dakas e dakinis dentro deles. Se nascer de um modo puro, então será um daka ou uma dakini e permanecerá nesses lugares pelo máximo da duração de um éon e no mínimo pela duração do período de ensinamentos do Buddha em cuja era você nasceu. Você renascerá como um daka ou uma dakini com o corpo de arco-íris. Esses são classificados como reinos khechari menores. “Reino khechari” significa um reino celestial, um reino que é puro e conectado com o mantra secreto. Esses, porém são reinos khechari menores, pois eles ainda estão conectados com lugares terrestres.


Muitos daqueles que obtiveram siddhi pela prática do mantra secreto, tais como os famosos mahasiddhas e outros, renasceram em tais lugares como dakas e dakinis. Se aqueles com karma impuro forem para lá, eles não verão nenhuma das divindades. Eles apenas verão uma floresta ou no caso do monte Kailash, uma montanha coberta por neve. “Ocorreu-me” disse Tchagme Rinpotche, “de ir em peregrinação a algum desses lugares, mas na dúvida se eu de fato veria alguma coisa pura ou não, eu decidi que eu não tenho vontade de ir ou lá renascer”. O que ele está dizendo é que todas essas coisas são arriscadas. Karma Tchagme Rinpotche está dizendo que o que ele quer é renascer em algum lugar onde há tanto as certezas de que poderá renascer em tal lugar e de que isso valerá a pena. Ele quer alguma coisa que será segura, rápida e fácil. Assim, nesse ponto ele diz para Tsondru Gyamtso, “o que você acha, Tsondru Gyamtso?”, em outras palavras, qual destes reinos você acha que vale a pena renascer?


Outro reino que as pessoas aspiram é o reino de Shambhala, no Norte. Tchagme Rinpotche diz que isso é apenas um país estrangeiro igual à Índia; quer dizer, significa que é um país que não é o Tibete. Do ponto de vista dos tibetanos, isso é apenas outro país no mundo. É verdade que isso tem uma linhagem ininterrupta de reis emanados, um após o outro e que os ensinamentos do Kalachakra prevalecem lá, mas a longevidade e a incerteza das circunstâncias individuais tais como as flutuações financeiras, felicidade, tempo de vida e assim por diante são as mesmas em Shambhala como em qualquer outro lugar do mundo. Outro reino no qual alguns praticantes tibetanos da tradição Bon aspiram é Tchang Tchung, a fonte dos ensinamentos Bon. Tchagme Rinpotche o identifica como um vale escondido ou uma região escondida atrás ou depois do Monte Kailash. Ele diz que os ensinamentos Bon ainda prevalecem neste local, mas as variações no tempo de vida e outras circunstâncias são iguais a qualquer outro lugar neste mundo.


Os ensinamentos Bon podem ainda ter prevalecido nesse local quando ele ainda escrevia este texto, mas teríamos que questionar se isso ainda é verdade nos dias atuais. Muitos destes lugares terrestres e reinos puros agora são muçulmanos. Ele conclui essa seção do capítulo dizendo, “não confunda a qual reino aspirar”. Quando ele diz isso, está se referindo a duas coisas que deveriam estar claras. Há reinos que são completamente puros, tais como os reinos puros do Leste, Sul, Norte e centro, mas esses são impossíveis de se renascer, a menos que você esteja no primeiro nível de bodhisattva ou no oitavo nível de bodhisattva, no caso do reino central. Não faz sentido aspirar isso. Então, há reinos que são menores, reinos semi-puros iguais a Tushita, Chamaradvipa, Shambala e assim por diante, mas eles são arriscados, porque você pode ter um nascimento impuro e assim de modo nenhum valerá a pena.



RENASCER EM SUKHAVATI


Há alguma alternativa para os reinos puros que acabamos de discutir? Há sim. Você vai relembrar que nós falamos dos reinos puros do Leste, do Sul e do Norte, mas não do Oeste. Nesse ponto, Tchagme Rinpotche nos direciona a aspirar somente a renascer no reino puro de Sukhavati do Oeste, “em tibetano Dewatchen”. Ele diz, “para o oeste deste lugar, tantos mundos distantes quanto há grãos de areia no Rio Ganges...”, este é um exemplo de algo inumerável. Muitos mundos distantes daqui, um pouco acima do nível de nosso mundo, está o reino de Sukhavati, ou Cheio de Bem-Aventurança. Como seu nome implica, ele é cheio de excelência, completo de bem-estar.


Diferente dos outros reinos, onde pode haver variações nas circunstâncias tais como tempo de vida e assim por diante, todos em Sukhavati têm exatamente as mesmas circunstâncias; todos desfrutam dos mesmos benefícios e prazeres. Nesse reino nem mesmo há as palavras ações não virtuosas e sofrimento. Sukhavati é assim por causa da aspiração do Buddha Amitabha quando ele deu surgimento à bodhichitta. Sukhavati é o reino puro completo, um reino sambhogakaya menor ou nirmanakaya maior igual aos reinos do Leste, norte e sul; mas diferentemente desses outros reinos, você pode renascer em Sukhavati devido ao poder da aspiração de Amitabha. Não somente você pode lá renascer, mas renascerá se você sinceramente aspirar a isso.


Somente duas coisas lhe impedem de renascer em Sukhavati: cometendo uma das cinco ações de consequência imediata ou abandonando o Dharma. Se você cometeu uma das cinco ações de consequência imediata, então assim que parar de respirar e morrer irá direto ao inferno; você não pode ir para Sukhavati. Se você abandonou o Dharma, também abandona a aspiração de lá renascer, o que cancela qualquer possibilidade de renascimento nesse reino. Fora desses dois tipos de circunstâncias, qualquer um que aspire renascer em Sukhavati terá sucesso.Qualquer um significa qualquer ser humano de qualquer gênero, cultura ou posição social. Definitivamente, isso é considerado como verdade. Os tibetanos têm uma expressão coloquial para aquilo que é verdade: “as palavras do Buddha”. Essa expressão é aplicada para esse tipo de afirmação sobre se renascer em Sukhavati.


O que causa o renascimento em Sukhavati? Há quatro condições que precisam estar presentes para esse renascimento ser certo. O primeiro é a causa do renascimento, que é a geração da bodhichitta. Assim a primeira causa é tomar o voto de bodhisattva. A segunda causa é o caminho desse renascimento, que é a acumulação de mérito pela execução das dez ações virtuosas, assim bem como quaisquer outros meios. A terceira causa é o que o impulsiona a esse renascimento, que é dedicar a virtude que acumulou por qualquer ação virtuosa para que renasça nesse reino. A quarta é aspirar conscientemente renascer nesse reino com fé e devoção unifocadas de uma mente sem distração. Tchagme Rinpotche diz que se você recitar a Aspiração para renascer em Sukhavati com esse tipo de atitude, tão pouco quanto dez vezes nessa vida, você tem esse renascimento assegurado.


Se você quer renascer em Sukhavati, mas duvida que isto seja possível, porque parece bom demais para ser verdade, o que acontecerá? Porque você acumulou a causa para tal renascimento, você renascerá lá, mas por quinhentos anos após nascer, a flor de lótus onde você tiver renascido não abrirá. Você ficará preso na flor de lótus. Isso não é algo totalmente ruim, ainda é Sukhavati, assim naturalmente você terá todas as condições necessárias de bem-estar e felicidade e mesmo durante esses quinhentos anos, você será capaz de ouvir a palavra de Amitabha. Por causa de haver duvidado tanto da possibilidade desse renascimento quanto de ver a face de Amitabha, você não será capaz de vê-lo por quinhentos anos. Isso é chamado de “atraso defeituoso”. A dúvida afetará sua aspiração, causando um atraso em ver a face de Amitabha, mas não vai impedi-lo de renascer naquele reino. Portanto, Tchagme Rinpotche diz, “abandone todas as dúvidas e faça a aspiração para renascer em Sukhavati”.


Ainda que haja muitos reinos Sambhogakaya completamente puros e muitos reinos nirmanakaya semi-puros, com uma exceção é impossível para uma pessoa comum nascer em um reino completamente puro. Para renascer em um dos reinos puros, você deve obter pelo menos o primeiro nível de bodhisattva. Porque os reinos de nirmanakaya semi-puros não são completamente puros, mas sim uma mistura de pureza e impureza, você pode acabar renascendo neles, mas é questionável se valerá a pena.


Por exemplo, o reino onde nós vivemos é o reino nirmanakaya do Buddha Shakyamuni. O Buddha surgiu aqui e seus ensinamentos existem, assim se você tem o karma necessário, pode encontrar inumeráveis bodhisattvas e ensinamentos do Dharma neste reino. Ao mesmo tempo, dadas as circunstâncias que experimentamos neste reino, nós não poderíamos o chamar de reino puro. Há muitos seres neste reino e neste mundo que não ouvem o Dharma; ou se eles ouvem o Dharma, eles não confiam ou mesmo o veem como prejudicial. É claro que nós queremos renascer em um reino completamente puro e não em um reino semi-puro.


Tem sido dito que há somente um reino completamente puro onde uma pessoa comum pode renascer e esse é o reino de Sukhavati, o reino de Amitabha. É um reino que é completamente puro; não tem qualquer sofrimento que seja e não possui qualquer obstáculo ao despertar e qualquer um que sinceramente fizer aspirações para renascer nesse reino, poderá lá renascer. De fato, é certo que aqueles que fizerem sinceras aspirações para renascer em Sukhavati, terão sucesso. Ele é superior a todos os outros reinos porque uma vez que você lá nascer, definitivamente atingirá a budeidade sem renascer em nenhum reino impuro.


Após ter explicado essas coisas, Tchagme Rinpotche disse para o Lama Tsondru Gyamtso, seu discípulo, “você, na hora de sua morte, direcione sua atenção (sua consciência) para esse reino, quando você estiver morrendo, não pense em outra coisa. Pense somente de renascer em Sukhavati”. Por conseguinte, Tchagme Rinpotche está de fato se dirigindo às pessoas do futuro e não particularmente ao Lama Tsondru Gyamtso. Ele continua, “se você tem dúvida disso, então você pode achar o que eu disse nas seguintes fontes”. Tchagme Rinpotche começa a citar as fontes, tais como o capítulo do Sutra de Ratnakuta, que explica o reino de Sukhavati.


Outras fontes citadas são o Sutra de Amitabha, o Sutra do Reino de Sukhavati, o Sutra do Lótus, o Sutra dos Buddhas que Habitam no Presente e o Dharani do Glorioso Rufar do Tambor Imortal. Esses sutras dão mais detalhes a respeito do reino de Sukhavati e da efetividade da aspiração para lá renascer do que Tchagme Rinpotche até agora tem citado. Assim, ele diz, “procure cuidadosamente nesses livros”.


O ponto é que agora mesmo, pelo poder da aspiração, nós temos a liberdade para escolher onde nós vamos renascer. É extremamente importante para nós escolher com cuidado e bem. Nós devemos escolher renascer em um reino onde nós podemos nascer e onde desejaríamos nascer. Então ele diz, “prepare as provisões para a jornada”. No Tibete levava-se comida quando se ia viajar porque não havia armazéns ou restaurantes no caminho.


Aqui as provisões são as quatro causas que levam a renascer em Sukhavati, das quais a principal é a acumulação de mérito. A primeira é trazer o reino à mente, que significa considerar o reino, imaginá-lo e imaginar o Buddha Amitabha com os bodhisattvas Avalokiteshvara, Vajrapani e outros membros do seu séquito. A segunda causa é juntar as acumulações e purificar os obscurecimentos realizando os sete ramos, direcionado para o reino imaginado de Sukhavati. A terceira é gerar bodhichita na forma específica de fazer a aspiração de levar todos os seres, sem exceção, para renascer em Sukhavati. A quarta é dedicar toda a virtude acumulada através dos sete ramos, a bodhichita e assim por diante, para renascer em Sukhavati. A acumulação dessas quatro causas é como mirar cuidadosamente no alvo: você mira sua prática na direção correta, assim como mirar cuidadosamente no alvo antes de atirar uma flecha.



AS QUALIDADES DE SUKHAVATI


A última seção deste capítulo é relacionada às qualidades reais do reino. Começa com a expressão em sânscrito E MA HO, que é uma expressão de reverência ou admiração e então HEH HEH, que é uma expressão de alegria. O maravilhamento ou reverência é devido ao fato de Tchagme Rinpotche ter se recordado das qualidades do reino. A expressão de alegria refere-se a sua reação à ideia de que qualquer um poderia supor se o reino tem alguma qualidade.


Desse modo ele começa, “Filho, monge Tsondru Gyamtso, você me pergunta, "quais são as qualidades desse reino? ”, o restante desse capitulo será a resposta. É dito que se você pegasse o conteúdo – quer dizer, toda a glória e todos os ornamentos, a majestade, a beleza e as qualidades – dos oitenta e um bilhões de bilhões dos reinos de buddha e os combinasse em um, isso seria, de longe, menos do que as qualidades de Sukhavati. Se cada ser senciente, um após outro, atingisse a budeidade e, ao atingi-la, descrevesse Sukhavati, eles levariam mais do que um éon para tal; e mesmo após todos os seres sencientes terem se tornado buddhas e falassem de Sukhavati por mais do que um éon, eles ainda não chegariam perto de descrever completamente suas qualidades.


Diz Tchagme Rinpotche, “Assim, como eu seria capaz de descrevê-las? ”. O reino de Sukhavati existe, assim nós devemos aceitar que em algum ponto ele surgiu. Porém, ele é indestrutível. Normalmente, reinos surgem e eventualmente são destruídos. Sukhavati é diferente, ele surgiu, mas não vai ser destruído. Até agora, inumeráveis buddhas surgiram nesse reino. No presente, ele é regido pelo Buddha Amitabha. O reino em si não se altera e é imutável. Ele não tem períodos de prosperidade e de pobreza, de coisas ficando melhores e coisas ficando piores. Seu tamanho é imensurável, você não pode dizer que caberiam mil, um bilhão ou um bilhão de bilhão de nosso mundo dentro desse reino e pensar que isto iria preenchê-lo, porque o seu tamanho está muito além disso. Todos os seres nascidos nesse reino nascem completamente livres; quer dizer, não há ser em Sukhavati que experimenta qualquer uma das oito condições intranquilas.


De fato, não somente as oito condições intranquilas não estão presentes, mas elas são completamente desconhecidas. Como resultado não há qualquer sofrimento em Sukhavati: nenhum dos seres nascidos e vivendo em Sukhavati experimentam qualquer coisa que corresponda ao que chamamos de dor, sofrimento ou atribulação. Devido à natureza do reino, é de fato impossível que alguém sentisse tais coisas enquanto lá estando. A experiência de estar em Sukhavati é uma continua e duradoura experiência de bem-estar inimaginável, sendo essa a razão pela qual se chama “Sukhavati, o Cheio de Bem-Aventurança”.


Nascer em Sukhavati ocorre quando a consciência do ser que lá nasce toma seu lugar no centro de uma flor de lótus. Em um instante o corpo desse ser, o corpo que ele terá pela duração de sua vida em Sukhavati, é totalmente formado. Isso quer dizer que não há um período de gestação, é um nascimento instantâneo. Não somente não há gestação, mas você nasce completamente desenvolvido, não como uma criança que não pode caminhar ou falar. Você nasce como um jovem, alguém que é complemente crescido e desenvolvido, sem ainda se encontrar no início do envelhecimento. Fisicamente cada pessoa em Sukhavati tem exatamente o mesmo tipo de corpo, cada pessoa tem as trinta e duas marcas e oitenta sinais da perfeição física, que em nosso mundo somente aparece no corpo do Buddha. Eles têm a protuberância na coroa, ou o ushnisha, as rodas do Dharma na sola do pé e palma da mão e assim por diante. Dessa maneira, todos são iguais e idênticos. Eles são da cor dourada e suas roupas são os três mantos monásticos.


Uma vez que você nasça em Sukhavati, imediatamente possuirá os cinco tipos de supercognição, que são graus de supercognição além de nossa experiência e você não tem aflições mentais (kleshas). Ao mesmo tempo, o processo de nascimento em Sukhavati é a obtenção do primeiro nível de bodhisattva; isso significa que você conquistou as aflições mentais e nunca dará surgimento aos três venenos. Desde que não há gestação, não há sofrimento no nascimento, também não há envelhecimento, velhice, sofrimento da morte e não há morte como nós a conhecemos. O tempo de vida é de inumeráveis éons. Essencialmente, você permanece em Sukhavati do momento de seu nascimento até que esteja prestes a atingir a budeidade. Lá não há morte acidental ou extemporânea. Você falece em Sukhavati quando está prestes a obter a budeidade e isso é porque quando você atinge a budeidade, realiza seu próprio reino de buddha. Se você escolher, isso pode ser dentro de Sukhavati, mas também pode ser em algum outro lugar. Esse é o único modo que você morre e deixa Sukhavati, não se morre da forma como nós conhecemos. Lá não há um processo de degenerescência física e morte.


A aparência do reino de Sukhavati simplesmente desaparece e a aparência do reino de sua budeidade aparece consequentemente. Fora disso, uma vez que você lá nasceu, nunca mais renascerá no samsara, em reino de humanos, devas e assim por diante. Uma vez que nasceu em Sukhavati, é impossível que não se obtenha a budeidade lá ou se quiser, em outro reino de sua escolha. Assim tendo nascido, você pode renascer em um reino impuro através da força das aspirações e do desejo de beneficiar os seres, mas nunca será forçado a isso. Nunca terá a causa comum de tal nascimento. Isso é porque se exauriu os kleshas, os quais são a causa do renascimento no samsara.


O local onde seres vivem em Sukhavati é chamado de um “palácio imensurável”. Ele não é igual aos palácios comuns de nosso mundo ou mesmo os palácios dos reinos dos devas. Ele é chamado de imensurável ou inestimável porque tal como as mandalas das divindades como Chakrasamvara e Vajravarahi, ele é literalmente imensurável. É sempre espaçoso o bastante para conter todos dentro dele e nunca é grande demais para aqueles dentro dele. Ele não tem uma verdadeira dimensão fixa.


Do mesmo modo, a comida e a bebida nesse reino não são iguais às que conhecemos no nosso mundo. Poder-se-ia especular, “que tipo de comida tem em Sukhavati? É comida americana ou comida tibetana? Espero que seja comida chinesa". De fato, não é nenhuma dessas. Ela é amrita, a qual aparece espontaneamente em qualquer forma e em qualquer sabor que desejar, simplesmente por desejá-la. Ela não tem que ser cultivada, comprada ou cozida, ela simplesmente aparece. A comida sempre satisfaz e sempre aumenta sua vitalidade e vigor. É diferente de uma comida comum, pois ela não deixa resíduos que requeiram excreção, assim nesse reino não se urina nem se defeca.


Em Sukhavati não há gêneros. Isso é devido a não haver nascimento como conhecemos. Atualmente, nós temos gênero masculino e feminino, porque isso é requerido para se nascer nesse nosso mundo e reino. Por causa de não haver tal nascimento em Sukhavati, lá não há gênero, todos são iguais. Convencionalmente, você poderia dizer que as deusas de oferenda que aparecem são deusas, mas nenhum ser que nasce em Sukhavati têm gênero. Enquanto estiver lá, será servido por inumeráveis deusas de oferenda que são lindas e adornadas por joias; elas são naturalmente e espontaneamente emanadas e são a incorporação do mérito que você acumulou para lá renascer. Em outras palavras, elas não são seres externos.


Enquanto permanecer em Sukhavati, você sempre será inseparável do Buddha Amitabha e sempre terá acesso a ele. Amitabha está sempre ensinando simultaneamente cada residente do reino, os ensinamentos do Dharma que cada um individualmente deseja e necessita ouvir. Não importa o que deseje, pode fazer inumeráveis oferendas a ele, simplesmente desejando fazer. Essas oferendas surgem nas palmas de suas mãos tão logo você pensa que deseja oferecê-las. Anteriormente nesse capítulo nós mencionamos o reino Nirmanakaya de Chamaradivpa, que é o reino do Guru Rinpotche. De fato, há um bilhão deles, há um bilhão de mundos igual ao nosso, cada um contendo um Chamaradivpa. Em cada um destes Chamaradivpas, tem um Guru Rinpotche. No Tibete, surgiram vinte e uma encarnações principais do buddha Amitabha. Todas essas emanações ilimitadas, os bilhões de Guru Rinpotche e todas as emanações de Amitabha, são simplesmente emanações de Amitabha. O verdadeiro Guru Rinpotche, a fonte da emanação, é em si Amitabha. Todos os outros aspectos de Guru Rinpotche, são emanações daquele. Assim, se você quer estar próximo de Guru Rinpotche, vá para Sukhavati.


Além disso, tem o bodhisattva Avalokiteshvara, que tem o seu próprio reino puro Nirmanakaya de Potala e também muitas emanações tais como o rei Songtsen Gampo, o Gyalwang Karmapa e o Dalai Lama. Além disso, os mil buddhas desse éon afortunado são, da mesma forma, considerados emanações de Avalokiteshvara. Todas essas emanações, aquela que rege Potala, os buddhas e grandes mestres, todos são emanações de Avalokiteshvara, que está de pé, a direita de Amitabha em Sukhavati. Se você deseja estar perto de qualquer um desses mestres, vá para Sukhavati.


O Bodhisattva Vajrapani tem seu próprio reino puro, que é chamado Tchanglotchen. Ele tem outras emanações em nosso mundo, tais como Gyaltsab Rinpotche, do qual há equivalentes em cada um dos bilhões de mundos. A fonte da emanação de todos esses aspectos é o Bodhisattva Vajrapani, que permanece à esquerda de Amitabha em Sukhavati. Se você deseja estar perto de qualquer um desses mestres, vá para Sukhavati. Muitos seres nasceram em Sukhavati. Os mais famosos historicamente dentro da tradição budista são, Arya Nagarjuna, que obteve o primeiro bhumi nesta vida e renasceu em Sukhavati; Lorde Gampopa que após ter obtido o despertar nesta vida, demonstrou o despertar manifesto, ou budeidade no reino de Sukhavati imediatamente após seu paranirvana; Lorde Khyungpo Naldjor da Shangpa Kagyu; Lorde Tsonan Tsemo da gloriosa tradição Sakya; Lorde Khatcho Wangpo; Namkhai Gyaltsen e Ngorpa Dordje Tchang também da tradição Sakya, esses são os mais famosos indivíduos de nosso mundo que Buddha Shakyamuni previu que renasceriam em Sukhavati, juntamente dos setenta e dois bilhões de bilhões de bodhisattvas. Por exemplo, o sexto Gyalwang Karmapa, Tongwa Donden predisse que após seu paranirvana enviaria uma emanação de si mesmo para Sukhavati. A emanação ainda está lá, rodeada por um séquito de centenas de milhares de monges. Para concluir, Tchagme Rinpotche diz, “Filho Tsondru Gyamtso, decida sem dúvida que quando você morrer, lá renascerá por todas essas razões”.


Você poderia pensar, “renascer em Sukhavati não é um abandono do meu dever de propagar os ensinamentos do Buddha renascendo nesse mundo. Com relação a essa questão, Tchagme Rinpotche diz “Pense com bastante cuidado a respeito disso. Não é necessário ser dito que os sofrimentos dos reinos inferiores – o reino dos infernos, pretas e animais – são inconcebíveis. Nós não podemos concebê-los. Se pudéssemos, não suportaríamos isso em nossas mentes. Os prazeres dos tais chamados reinos superiores de deuses e humanos não são de mais valia que um sonho. Eles são insubstanciais, especialmente no período de degeneração da doutrina que vivemos. Você poderia, através de aspiração e de uma cuidadosa conduta, ter sucesso em renascer como humano, vez após outra, mas isso é muito arriscado”. Há tantas circunstancias nesse mundo que podem causar morte repentina e extemporânea. Você pode aspirar renascer nesse mundo para praticar e ensinar, mas pense sobre em que realmente consiste em uma vida humana. Os primeiros dez anos da vida você não pode realmente pensar, assim esses anos não vão ser usados para praticar e ensinar. Então, enquanto você cresce, está totalmente preocupado com a sobrevivência, com o que vai comer, vestir e se tem o suficiente de coisas materiais, então se ocupará com distrações. Você despende quase metade da vida dormindo e a expectativa de vida está decrescendo. Tchagme Rinpotche diz, “Agora é quarenta anos e ela está decrescendo constantemente. Você não vê que não há garantia de que se você nascer aqui, você terá a oportunidade ou liberdade para praticar o Dharma.


Enquanto o tempo passa, as aflições mentais das pessoas tornam-se mais grosseiras e aqueles aos quais você beneficia respondem com abuso ou traição. Nos dias atuais, pessoas denigrem o sagrado, o santo, o erudito e o realizado. Eles os chamam de mentirosos e falsos. As pessoas são diligentes somente na realização das dez ações não virtuosas, devotando todos seus esforços, energia e imaginação em encontrar meios de se engajar em ações não virtuosas. Você pode pensar que deseja beneficiar tais seres, mas se todas as emanações de buddha que surgiram nesse mundo, tais como as já mencionadas emanações de Amitabha, Avalokiteshvara e Vajrapani têm dificuldade de beneficiar os seres nos dias atuais, você não vai fazer melhor que isso. Você irá apenas fazer a si mesmo extremamente infeliz. Talvez você pense, “Eu quero renascer aqui porque há pessoas que eu amo, minha família, meus parentes, meus amigos, meus discípulos e os outros monges no meu monastério”. Eles não vão durar muito mais do que você, muitos provavelmente morrerão logo depois que você, assim, mesmo se renascer aqui, eles não vão estar por perto. Não esqueça que, mesmo se eles estiverem por perto, você não vai reconhecê-los, porque não lembra suas vidas passadas.


Ao contrário disso, Amitabha estará vivo e ensinando em Sukhavati por um tempo muito longo. O tempo de vida de Amitabha é normalmente medido como cem mil bilhões de bilhões de éons, com um éon sendo a duração do universo. No final do período dos seus ensinamentos, Amitabha vai demonstrar paranirvana. Devido a Sukhavati ser o reino puro, ele não vai de fato morrer, mas vai desaparecer de lá. Seus ensinamentos sobreviverão nesse reino por duas vezes a quantidade dos grãos de areia do Rio Ganges, em éons. Durante o período após o paranirvana de Amitabha, pelo tempo de duração dos seus ensinamentos, o bodhisattva Avalokiteshvara presidirá o reino como o regente de Amitabha. Tendo lá nascido, por todo esse período você continuará a praticar o Dharma e, devido a ter obtido habilidades miraculosas incessantes imediatamente em seu nascimento, por esse tempo você irá para qualquer reino que deseje.


Anteriormente nesse capítulo, foi estabelecido que você não pode nascer nos reinos Sambhogakaya Leste, Norte, Sul e central e não quer renascer nos reinos Nirmanakaya por causa das circunstancias incertas. Porém, uma vez que você nasça em Sukhavati, você pode ir para qualquer um desses reinos, permanecendo o tempo que desejar e retornar quando desejar. Poderá ir para Abhirati (Manifestadamente Jubiloso) e o reino do Buddha da Medicina, ambos os quais estão no Leste. Você pode ir para o Glorioso no Sul ou para o Atividade Completa, no Norte. Devido a suas habilidades miraculosas, pode ir ainda para o reino de Potala, o reino de Chamaradvipa ou o reino de Uddiyana apenas pensando neles. Nesses reinos você pode fazer oferendas para os buddhas regentes, receber iniciações e instruções deles e imediatamente retornar para Sukhavati. Assim, se nascer em Sukhavati, tem acesso a todos eles quando desejar e isso não é diferente de ter nascido em todos estes reinos ao mesmo tempo. Se desejar vir a este mundo para conferir o que está acontecendo, poderá vir a qualquer hora. Mais ainda, quando cada um dos buddhas surgir nesse mundo (por exemplo, o quinto Buddha, Maitreya, o sexto Buddha, Leão ou qualquer um dos mil buddhas), poderá vir para esse mundo, fazer oferenda a eles, receber seus ensinamentos e imediatamente retornar a Sukhavati.


Após o paranirvana de Amitabha, seus ensinamentos permanecerão sob a direção do Bodhisattva Avalokiteshvara. No fim desse período, os ensinamentos de Amitabha desaparecerão em uma noite. Na manhã seguinte ao alvorecer, Avalokiteshvara atingirá a budeidade. Seu nome como um buddha será Rei do Glorioso Amontoado de Raios de Luz. Seu tempo de vida será de novecentos e sessenta mil bilhões de bilhões de éons. Pela duração de sua vida após a budeidade, você continuará discípulo dele e continuará a praticar. Após a passagem dele, os seus ensinamentos durarão por um período de seiscentos milhões mais trinta bilhões de bilhões de éons.


Após o paranirvana de Avalokiteshvara e pela duração de seus ensinamentos, estes serão mantidos por Vajrapani, que será seu regente. Se você tiver nascido em Sukhavati nesse período realizará seu samadhi e superará os obscurecimentos finais. Simplesmente por nascer em Sukhavati, você superou o obscurecimento das aflições mentais grosseiras. Pelo resto do seu tempo em Sukhavati purificará as aflições mentais sutis, especialmente o obscurecimento cognitivo e o obscurecimento que é o hábito. Durante esse período, você começará a purificar completamente esses obscurecimentos.


Igual ao ensinamento de Amitabha, esse período terminará em uma noite quando os ensinamentos de Avalokiteshvara desaparecerem. Na manhã seguinte ao alvorecer, Vajrapani alcançará a budeidade. Seu nome será Rei das Qualidades do Amontoado de Joias. Seu tempo de vida e a duração de seus ensinamentos após o paranirvana serão iguais aos de Avalokiteshvara. Você continuará a praticar por esse período e durante esse tempo, vai realizar completamente as acumulações. Quando for o momento de você atingir a budeidade, uma de duas coisas acontecerá.


Se desejar, pode demonstrar o despertar manifesto, a budeidade perfeita no reino de Sukhavati. Você pode também fazer isso em outro reino se assim desejar e, nesse caso, o reino de Sukhavati vai desaparecer de sua percepção e renascerá no reino de sua budeidade. Isso não é a morte como nós conhecemos. Todos que nascem em Sukhavati são bodhisattvas no seu nascimento final. O bodhisattva em seu nascimento final é um bodhisattva que, na sua vida ou durante o nascimento imediatamente após o atual, demonstrará o despertar perfeito.


Todos nascidos em Sukhavati permanecerão nesta vida até que eles estejam prestes a obter a budeidade. Assim, cada um em Sukhavati é um bodhisattva em seu nascimento final. Mantenha em mente todas essas razões para aspirar nascer em Sukhavati. Tchagme Rinpotche diz, “Faça da aspiração para renascer em Sukhavati sua prática principal; faça de Amitabha e Avalokiteshvara suas divindades principais”. Isto foi dito por Tchagme Rinpotche no intervalo da prática de tarde do oitavo dia e no intervalo da prática da manhã do nono dia dos dias minguantes do mês ou lua, chamado Trum, no ano do cavalo e foi registrado por Lama Tsondru Gyamtso.


(Extraído do comentário de Khenpo Karthar Rinpoche sobre o texto " Dharma de Montanha" de Karma Tchagme = Raga Asya / 1613-1678)

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