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O Dharma dos Cinco



-Por Tchamgon Kenting Tai Situpa-




Hoje, como foi requisitado, eu irei conduzir este ensinamento específico baseado no Dharma dos Cinco.



As cinco características básicas da pessoa meritória.


Primeiramente, de acordo com a qualidade geral básica da pessoa meritória há 5 particularidades que podem ser descritas e que personificam a pessoa meritória.


1 - A primeira é a mente domada e também a mente equilibrada.

Domada significa uma mente que não é selvagem. Calma e balanceada significa que essa mente domada se mantém, ela não flutua.


2 - A segunda qualidade é a gentileza e o permanecer na gentileza.

Nós podemos parecer gentis, porém, por permanecer gentil na superfície e no interior, essa é uma pessoa gentil. Gentileza não advém de fingimento, ela vem do interior da pessoa. Uma pessoa que é realmente domada, realmente estável, então uma gentileza genuína se manifesta, surge.


3 - A terceira qualidade é uma pessoa que é direta.

Essa objetividade tem tantas características, assim como uma pessoa justa, correta, etc. Então isso é ser, digamos, maduro o suficiente para que você não sinta que há necessidade de ser manipulativo. Ser manipulativo é muito estressante, porque você pode se esquecer. E você precisa ser fiel a essa manipulação, de uma certa maneira, na sua cabeça, nas suas palavras e nas suas ações também. Então, se você for correto, justo e direto, então você não precisa ter essas atividades mentais, físicas e orais desnecessárias.


4 - A quarta é a mente estável.

De certa forma, nós podemos descrever que a pessoa é confiável. Porque uma pessoa que está contente, não apenas isso, mas que tem autovalorização e autoconfiança, então, a pessoa não vê nenhuma razão para ser instável. A instabilidade não irá ocorrer. Uma casa é instável se está faltando uma boa fundação. Até mesmo com uma boa fundação, a casa será instável, se ela for construída em um solo instável e assim por diante. E estabilidade também é flexibilidade. Por que se você for estável, então você pode ser flexível. Do contrário, você pensa que irá perder muito por ser flexível, pois você não tem certeza a respeito da sua base, da sua estabilidade, das suas raízes. Se as raízes não são boas, a fundação não é boa, então você teme que se você for muito flexível, pode cair. Portanto, flexibilidade é muito importante. Uma pessoa inflexível, uma pessoa sem flexibilidade mental é repleta de estresse. Portanto, é preciso ser capaz de ser flexível. Porém, flexibilidade sem princípios é como uma bandeira sem um mastro. A bandeira deveria ser capaz de se mover ao vento, para que todos possam ver. Mas pode se mover muito graciosamente apenas se o poste da bandeira for muito robusto e forte. Logo, flexibilidade vai junto com robustez. Então, com todas essas quatro qualidades você já quase sabe tudo. Não saber tudo como sendo omnisciente, mas de certa forma, saber como agir no momento certo, da forma certa, o que dizer no momento certo, da forma certa, como pensar no momento certo acerca do assunto certo, do problema certo. Portanto, todas essas quatro qualidades descrevem uma pessoa meritória, não uma pessoa iluminada, mas meritória.


5 - Meritória significa ser uma pessoa feliz.

Meritória significa ser como uma linda árvore, na qual todos os pássaros irão viver. Uma linda árvore, cuja sombra será onde crianças e pessoas irão descansar. Uma linda árvore que se torna o ornamento daquele entorno. Então, dessa forma também se torna a fonte de muitas outras lindas árvores, se torna uma inspiração, se torna uma experiência. Então, esses são os cinco muito básicos. As cinco características básicas da pessoa meritória.




Os cinco sinais de um bom yogui.


Agora nós damos mais um passo, para um bom praticante de Dharma, um yogui. Os cinco sinais de um bom yogui. Você pode dizer um bom monge, uma boa monja, um bom praticante de Dharma, que pode ser um iniciante, um sénior, mas se a prática da pessoa estiver indo bem, genuinamente bem, então essas cinco qualidades estarão lá:


1 - Quando alguém te louva, isso não te faz oscilar. E se alguém te insulta, isso não te faz oscilar.

Ao mesmo tempo, tecnicamente, você sabe, não importa o quanto alguém te louva, ele não poderá te elogiar o suficiente para justificar o seu potencial primordial. E o seu potencial primordial é Buddha. Portanto, ninguém pode te elogiar o suficiente para justificar o seu potencial primordial. Você fica feliz quando alguém diz coisas boas sobre você, mas você não ficará histericamente feliz. E quando alguém te insulta é o mesmo: ninguém pode te insultar exatamente na medida dos seus defeitos. Porque você é o Buddha e eu sou o Buddha, mas eu não realizei a budeidade, eu estou vagueando pelo samsara. Ignorância, apego, raiva, inveja, orgulho, tudo isso.. Portanto, ninguém poderá me insultar o suficiente para realmente descrever todos os meus defeitos. Então dessa forma, alguém pode dizer "Você tem uma aparência horrível"; "Você é estúpido", todo tipo de coisa, mas isso não é nada comparado às minhas falhas, aos meus defeitos de não saber quem eu sou, quem eu sempre fui, um Buddha em construção. Essa é a primeira indicação de um bom praticante.


2 - A segunda indicação é que quando você está fazendo coisas e dizendo coisas é para o benefício dos outros.

É claro que nós podemos fazer coisas para o benefício dos outros, mas o bom yogui, o bom praticante, faz coisas, diz coisas e pensa em coisas para o benefício dos outros desprovido de qualquer tipo de condições, sem expectativas. Então é essa a número dois.


3 - A terceira: quando se está meditando e dizendo mantras, lendo os textos do sutra ou do tantra, ou meramente meditando, isso tem que ser puro.

Por exemplo, você está meditando, e quando você está sozinho e ninguém está olhando, você está viajando em sua mente, e o seu corpo também não está sentado apropriadamente, mas quando há outras pessoas a sua volta e então essas pessoas começam a tirar fotos, então você realmente se senta como um yogui, e tenta ser tão impressionante quando possível. Mas não é assim. Ninguém olhando, ninguém ouvindo ou todo mundo olhando, todo mundo ouvindo, sua prática é a mesma, sua maneira de praticar é a mesma. Essa é a qualidade de um bom yogui.


4 - A quarta qualidade de um yogui é que até mesmo que você morra amanhã, ou até mesmo que você viva por 100 anos ou mais, não há diferença.

Você não está com medo de morrer amanhã e você não está empolgado para viver 100 anos. Sem diferenças. Todo momento é viver e morrer. Portanto, o bom praticante yogui, para ele ou ela, todo momento é a morte do momento anterior e o nascimento do momento presente e então, o momento futuro, virá imediatamente após o momento presente. Então, é uma continuação. E morrer e nascer não são nada mais do que o momento passado, o momento presente e o momento seguinte. Ou então, sendo um pouco mais bruto, um pouco mais superficial, toda noite quando você vai dormir é como morrer, toda manhã quando você acorda é como nascer. É assim! Então, da mesma forma todo momento é assim, para o yogui que não tem nada a temer, porque isso é desconhecido, nós não sabemos o que acontecerá na próxima vida, da mesma forma nós não sabemos o que acontecerá amanhã, o que acontecerá no próximo momento. Portanto, a ausência de medo da morte significa que a pessoa não tem medo de morrer? Que ela está pronta para morrer a qualquer momento, de qualquer causa? Não significa isso. Sabiamente e positivamente, viver cada momento como o primeiro momento ou como o último momento. Então, essa é a quarta qualidade do yogui, do verdadeiro yogui.


5 - A quinta qualidade é que independente se algo supostamente deveria ser muito importante ou medíocre, independente disso, a conscienciosidade do yogui, a clareza do yogui e a determinação do yogui, a veracidade do yogui, a estabilidade do yogui é igual.

Algo que é suposto ser muito importante, o yogui não tem coisas extras para adicionar nessa ocasião. E algo que é uma coisa cotidiana, o yogui não tem nada para deixar de lado. Como por exemplo, nós temos uma função, uma função muito especial, nós temos roupas especiais, coisas especiais para vestir e para carregar, e coisas desse tipo, e o yogui não tem essas coisas. O yogui sempre é o mesmo, sempre decidido, sempre claro, sempre consciente, sempre verdadeiro, sempre estável. Então, essas cinco qualidades são qualidades ou sinais de um bom praticante, de um bom yogui. É claro, que você e eu e todos, iremos tentar praticar o Dharma para que sejamos um yogui, para que possamos ser capazes de fazer isso. Agora, a maioria de nós é incapaz de fazer, mas nós deveríamos olhar em frente e nos esforçar para isso. Não desesperadamente, porque você não pode alcançar nada desesperadamente. Quando você está desesperado você faz uma grande bagunça de tudo. Até mesmo com algo na palma da sua mão, se você está desesperado, você irá tremer e você fará cair e quebrar, então, não seja desesperado, apenas se mantenha calmo, tudo está bem. E o grande espaço não irá embora. A sua natureza búdica, você não irá perder. E o tempo sempre ficará ali como passado, presente e futuro. Portanto, não há razão para pânico, para ser histérico, não há razão para estar muito excitado e nem muito deprimido. Então, essas são as qualidades do yogui.




Cinco pontos importantes na linhagem do Mahamudra.


Agora, essas são as particularidades e agora nós vamos ser um pouco mais específicos com a prática. Na prática, na linhagem do Mahamudra, há cinco coisas muito importantes. E toda linhagem de Mahamudra enfatiza isso, mas a linhagem Drikung enfatiza de forma muito clara, digamos, de forma específica.


1 - Preliminares.

Preliminares é a primeira. E preliminares são o refúgio e a bodhicitta. Bodhicitta é baseada no refúgio no Buddha, Dharma e Sangha, é claro. Bodhicitta pelo despertar de todos os seres sencientes. Mas isso tem que ser verdadeiramente implementado e praticado de uma maneira diária, e claro, momento a momento, mas isso é esperar muito da maioria de nós. Então, no dia a dia.


2 - Auto-visualização.

A segunda é a auto-visualização.


3 - Visualização acima da coroa da sua cabeça.

A terceira é a visualização acima da coroa da sua cabeça, não como parte de você, mas acima da sua cabeça.

Essas duas são descritas como sampanna krama e utpannakrama, visualização e completude. Aqui [em sampanna krama], você mesmo se transforma na forma da deidade, a forma sambhogakaya da deidade. Como a grande deidade bodhisattva, pai de todos os Buddhas, Avalokiteshvara, ou como a mãe de todos os Buddhas, Tara, mas Avalokiteshvara é particularmente mencionado no texto. Mas o princípio é o mesmo. E então, o guru. O guru aqui significa: na coroa da sua cabeça, o guru Vajradhara.


Muitas vezes eu vejo pessoas ficando confusas com o guru humano e com o que o guru humano representa. Então essas duas coisas são confundidas. O guru humano é a pessoa que recebeu a transmissão do guru dele ou dela, cuja linhagem remonta ao Buddha Shakyamuni. E porque você recebeu essa linhagem de transmissão do Dharma puro, então essa pessoa é seu guru. Se não fosse pela linhagem, o guru não existiria, o guru existe devido à linhagem. E então as pessoas perguntam "Qual é o [meu] relacionamento com o guru?" É muito simples: o seu relacionamento com o seu guru, no que diz respeito à prática Vajrayana, você recebeu o ensinamento puro do Buddha, o qual continuou desde o Buddha Shakyamuni até o seu guru e o seu guru transmitiu esses ensinamentos sagrados à você, então esse é o relacionamento de vocês. O guru representa o Buddha porque eu não posso ver o Buddha agora, então o meu guru representa o Buddha para mim. As palavras do meu guru são os ensinamentos do Buddha, não tudo que o guru diz, mas o Dharma puro que o guru irá me conceder, isso é o ensinamento genuíno do Dharma. E então o guru, ele ou ela mesmo, é a Sangha. Pode ser a sangha ordinária, podem ser arhats, pode ser, no sentido Vajrayana, um bodhisattva, ou pode ser um yogui. Então esse é o aspecto sangha do guru. Então, a sua relação com o guru é ouvir o ensinamento do guru, que é o ensinamento do Buddha continuado, e então praticar isso - esse é o seu relacionamento com o seu guru.

Ademais, um ser humano que está associado com qualquer outro ser humano, não meramente como um professor, guru, mas, além disso, de humano para humano, como amigo próximo, isso é outra coisa que não tem muito a ver com guru por definição, mas sim um ser humano o qual você está familiarizado. E se o guru, enquanto esse ser humano, diz algo, por exemplo, o seu guru, entre os ensinamentos te diz "Por favor, você pode ir comprar um café da Starbucks? E não esqueça de me trazer um Muffin!" isso não é um ensinamento de Dharma, é apenas uma conversa entre seres humanos, amigo perguntando ao amigo, então se você pode, você diz "sim", se você não pode, você diz "Oh, hoje eu estou ocupado, por favor, me perdoe, mas eu irei pedir", e então você liga e a Starbucks irá trazer o café e o muffin - eu acho, não sei ao certo, mas se não for muito longe, eles o farão. Então, dessa forma, você não está fazendo nada errado, é claro que você faz o seu melhor e se você pode, assim como faz para um amigo, quando você está trabalhando em um lugar e o seu amigo está um pouco cansado e ele te diz "Eu vou descansar nesse parque, nesse banco, eu realmente tive um dia terrível, eu fiquei em pé o dia todo trabalhando, por favor, será que você pode me trazer uma pizza?", se você pode, você diz "sim", se você não pode, você diz "não posso", é dessa maneira. Então, os ensinamentos de Dharma do guru, você deve praticar! O guru, enquanto ser humano, te pede algo, no nível humano, você diz sim ou não de acordo com a sua compreensão e a compreensão do guru. E é claro, se você pensar que o seu guru é o Buddha, isso é algo diferente, não tem muito que eu possa falar. Mas, alguns dos meus alunos, meus alunos de Dharma, me dizem "Você é Buddha!", e eu digo a eles "Eu não sou!". E então, eles insistem e eu digo a eles "Ok, na sua meditação, na sua prece, na sua prática, você pode pensar dessa forma, está tudo bem para mim. Porém, na minha vida, você sentando aí e eu sentado aqui, você pensando que eu sou Buddha e que tudo que eu digo são as palavras do Buddha, isso eu não quero, porque eu não Buddha ainda. Talvez daqui milhões de anos eu serei um Buddha, isso é outra coisa". Mas de qualquer modo, não irei entrar muito nisso, mas há muita confusão nessa área. Porque na minha formação há muito pouca confusão nessa área, mas especialmente os novos budistas, cujos pais não são budistas, que não são do ambiente budista, e até mesmo eles sendo budistas, eles não são familiarizados com o budismo Vajrayana, então, eles têm todo tipo de preocupações e fantasias com o relacionamento entre guru e discípulo. Então, isso você precisa compreender corretamente.


4 - Prática de Mahamudra.

A quarta é a prática do Mahamudra de fato. As práticas preliminares, as práticas de purificação, guru yoga, prática de deidade, etc, é uma coisa, mas Mahamudra, indo diretamente à meditação, é muito específica. O que isso quer dizer é que não há deidade, não há mantras específicos ou nada assim, mas apenas meditar, então, há três coisas a respeito da meditação Mahamudra, me escute muito cuidadosamente: primeiro, você precisa meditar para fazer sua mente calma e você precisa alcançar o estado mental do permanecer em quietude. Não desesperadamente tentando ficar calmo, pois há tantos métodos, e eu irei te dizer um pouco depois algumas especificidades, então esses métodos o ajudão a ficar calmo facilmente. O que te faz não estar calmo é a sua ignorância, o seu apego, a sua raiva, a sua inveja, o seu orgulho, todas essas coisas te fazem ficar sem calma. E ao mesmo tempo, o seu corpo e todo o prana, bindu, o seu nadi, quando eles não estão em harmonia e sincronia, então, isso te faz ficar sem calma. Então, os acalme, se acalme, tudo ficará em equilíbrio. Portanto, esse é o primeiro passo, uma vez que você está calmo, então ficará claro o vipassana. E aqui, eu preciso ser claro, em páli, vipassana e shamata, e em Sânscrito, vipashyana e sámata, é ligeiramente específico, eu não posso dizer diferente, mas é específico. Eu não sei muito páli, mas eu baseio tudo em sânscrito, porque a minha compreensão do tibetano é mais baseada no sânscrito, também em páli, é claro. Então, aqui, vipassana significa clareza, porque a sua mente está calma, então ela se torna clara. E essa clareza, o que quer que você pense a respeito, se torna muito claro. Por exemplo: A minha mente existe no meu corpo? Muito claro... A minha mente tem alguma forma ou cor? Muito claro.. A minha mente tem alguma velocidade? Muito claro... Para mim, eu espero que eu não esteja sendo presunçoso, mas a velocidade da mente é absoluta. Uma distância de um bilhão de galáxias: a sua mente pode estar lá ao mesmo tempo em que sua mente está aqui, é totalmente permeante, então, não viajando, não indo, mas estando em todos os lugares ao mesmo tempo. Eu posso dizer isso devido aos ensinamentos que eu recebi. Eu tenho alguns vislumbres de experiência, de uma forma muito muito pequena, minúscula, mas de qualquer forma, em todo caso, eu não posso alegar que eu tenho tal experiência, mas eu tenho um cheiro, um sabor, eu ouvi, algo assim... Então dessa forma, eu sei do que eu estou falando. Então, isso é vipassana no seu mais alto nível. E assim, finalmente, você realiza a essência de tudo, que é a sua essência. Quando você realiza a sua essência, essa é a natureza da sua mente. A sabedoria primordial, incorruptível, totalmente permeante, sempre presente. Desse modo você realiza tudo acerca de tudo. Do contrário, até mesmo saber a definição de tudo, um por um, isso levará um milhão de vidas para contar e escrever e descrever, até mesmo isso não seria suficiente, pois se há espaço infindável, com universos incontáveis, com inumeráveis seres sencientes, não significada nada. Portanto, relativamente, é impossível saber tudo. De forma último, quando você sabe tudo a respeito de uma coisa, de forma minuciosa, então, você sabe tudo acerca de tudo. E, nisso, o mais fácil e mais próximo, é saber a essência de você mesmo, a essência da sua mente, desse modo você saberá a essência de tudo. E então isso é shamata, vipassana e meditação na natureza da mente. A prática principal.


5 - Dedicação.

E então a conclusão: dedique tudo. A primeira, segunda, terceira e quarta. tudo, ao benefício dos seres sencientes, para que eles tenham essa realização - isso é dedicação.

Portanto, essas cinco coisas, um praticante como você e eu, precisa cumprir em toda prática, em cada sessão, todos os dias, em todos os retiros, a todo momento, nós precisamos continuar assim. O quanto nós cumprimos isso todas as vezes? O quanto nós fazemos é como nos tornamos um verdadeiro yogui. Se você cumprir isso, às vezes, nós apenas conseguimos fazer um e dois, e o três e quatro serão esquecidos, nós nos deixamos levar, a nossa mente perambula por aí, nós ficamos dispersos, não focados, então, é claro, nós ainda estamos fazendo o nosso melhor, mas a nossa prática não está no máximo. Então, essas são as particularidades da prática de Mahamudra.




Os cinco conhecimentos.


Agora, já que não há muito tempo, eu irei fazer uma conclusão. Então, nós damos um passo à frente: os cinco conhecimentos.

Por exemplo, na cultura tibetana, é totalmente influência pelo budismo vajrayana, totalmente. Eu te darei um exemplo: quando você diz cinco aspectos do conhecimento: o primeiro é criação, arte; o segundo é a cura, medicina, qualquer tipo de tratamento; o terceiro é o som, sendo o sânscrito a base e então a língua e tudo que está relacionado com a língua, por exemplo, poesia, cantar, dançar, todas essas coisas são expressões.


1 - Criação

A primeira, criação, é como o universo é formado: terra, água, fogo, ar, quatro elementos que se formam no espaço, [fazendo assim] os cinco elementos. Até mesmo que você faça uma coisa pequena, faça um pote, você trabalha com cerâmica, você tem que saber as regras, senão você fará um lindo pote e você esquece de aquecê-lo, no momento que você o usar, ele irá se desmantelar. Então, dessa forma, até mesmo para fazer um pote, você precisa entender sobre a criação, e isso é os cinco elementos. Então a arte criativa e todos os seus aspectos vai junto disso. E também criar a imagem do Buddha e assim por diante, também vai junto disso.


2 - Cura

A segunda, a cura, sowa rigpa, a arte da cura, isso são remédios de todo tipo, não apenas algo para se colocar na boca, mas para se aplicar externamente, e também correções do sistema neurológico que está bloqueado ou emaranhado, ou o sistema muscular, que está emaranhado, ou o sistema ósseo, que não está no local correto, puxa-se aqui e ali, colocando todos eles juntos, é como uma sintonia fina do piano ou violino mais sofisticado, o corpo é dessa forma. Então, é preciso encontrar a sintonia fina do corpo. Isso é sowa rigpa, através de todo tipo de remédio e de todo tipo de tratamento, incluindo correção dos ossos, músculos, sistema nervoso, etc. Assim, o primeiro é existência externa, o segundo é dentro da existência física dos seres.


3 - Som

O terceiro, o som, é quando o ser faz um movimento, dentro ou fora, então isso é o som. Você pode ter uma guitarra encostada por aí, pode ter uma harpa encostada por aí, por um milhão de anos e elas não irão produzir um som, mas se elas são tocadas por um vento, ou tocada por uma folha que cai, ou por um pássaro que pousa nelas, ou se é tocada por um verdadeiro músico, então elas fazem um belíssimo som. É assim, todo som advém do movimento. Poesia também é um belo som, mas muito sofisticado. Até mesmo algo que supostamente deveria ser uma péssima poesia, se você realmente olhar para isso, é uma bela poesia. Tal como você nunca pode ter uma poesia terrível, se alguém faz uma piada, tenta fazer uma piada terrível, mas se você sintonizar a sua mente nisso, será uma ótima piada e muito engraçada - é assim! Música é dessa forma. Se você der a volta ao mundo e ouvir todo tipo de música pelo mundo, então até que você entenda, irá soar muito estranho, mas quando você entende, é bonito. Quando eu ouvi música heavy metal pela primeira vez foi horrendo para mim. Ao invés de deixar a minha mente calma, me deixou agitado: é como um cavalo selvagem que se soltou dentro de uma fábrica de metal que fabrica todo tipo de potes e pratos. É assim que soou no início, mas uma vez que eu superei esse tipo de mentalidade, então as músicas de heavy metal ficaram lindas! Elas têm ritmo, elas vão diretamente para os seus ossos e para sua medula óssea, elas vão dentro do seu coração e vão na batida do seu coração, vai para cada célula no seu cérebro e no seu corpo, é por isso que tantas pessoas gostam tanto. Mas é claro, com o devido respeito, para meditar, por eu não ser iluminado ou um meditador verdadeiramente próximo do despertar, eu não prefiro heavy metal, eu gosto mais de músicas contemporâneas para a minha meditação. No entanto, eu realmente gosto de ouvir heavy metal, no momento adequado é belíssimo. Não há algo como um som que não seja bonito. Você ouve a explosão de uma erupção vulcânica, é muito feroz e muito poderosa, mas se você ouvir ela muito calmamente, claro, de longe ou em um documentário com um bom sistema de som, têm tantos sons nisso, todos combinados juntos, é muito bonito. Então, o som está vindo da matéria se movendo dentro do espaço.


4 - Pramana

E então, pramana. Pramana significa lógica, e isso é como você define o que é o que. Se você olha para uma floresta, de muito muito longe, talvez centenas de milhas de distância, ou talvez vinte milhas de distância - com o meu tipo de olho, melhor vinte milhas de distância - e se há uma fumaça saindo, eu sei que há um fogo, eu não vejo o fogo, mas eu sei que há fogo. Mas eu não saberia se o fogo ainda está ali ou se ele se extinguiu. Então, eu preciso olhar mais além, se a fumaça está se movendo e subindo, subindo, então eu sei que o fogo ainda está acontecendo. É assim, tudo tem uma lógica. E esse é o quarto aspecto do conhecimento. Todos esses quatro conhecimentos, todos eles, chegam até o quinto: o conhecimento do interior.


5 - Conhecimento interior

Tudo se manifesta lá fora porque a fonte dessa manifestação está aqui [dentro]. Se eu tiver olhos, eu irei ver, mas a minha mente, que está dentro, e os meus olhos, se conectam e então algo lá fora que há para ser visto, eu irei ver. A mesma coisa com o ouvido e o som, a mesma coisa com a língua e o paladar, a mesma coisa com o nariz e o odor, a mesma coisa com o corpo e o toque - tudo isso está conectado com o que está dentro. E se nós somos livres e despertos, maduros e liberados a partir de dentro, tudo que está fora é liberado. O Buddha Shakyamuni, após 2600 anos, até mesmo ao repetir as suas palavras, nós sentimos a liberação, nós sentimos a liberdade, nós sentimos a bondade, nós sentimos a sabedoria, a compaixão, tudo isso, se manifesta a partir de dentro. Agora, há muitos outros "cincos", mas eu deixarei assim por hoje, porque o tempo está se esgotando. Mas exemplos de "cinco coisas": cinco ventos ou cinco energias, cinco obscurecimentos, cinco reinos (dentro de cada obscurecimento), cinco Dhyani Buddhas, cinco elementos, cinco Buddhas, e todos os diferentes símbolos dos cinco Buddhas, cinco mudras dos cinco Buddhas, então todas essas coisas são temas muito vastos e você deveria saber que essas coisas estão aqui, e nós, enquanto praticantes, nós deveríamos aprender [sobre isso] no futuro. Eu tenho certo de que há material mais do que suficiente por aí, em todas as formas, em bibliotecas e também em qualquer outra forma de leitura. Hoje em dia, nessa era eletrônica, você pode ler esses livros em tantos formatos diferentes.. Eu sou uma pessoa do século 20, você é uma pessoa do século 21, então você tem tantas coisas disponíveis a mais na ponta do seu dedo. Portanto, aprenda sobre essas coisas. Agora, eu irei usar cinco sons particulares, ou poesia, pelo grande mestre desperto Tilopa e o Naropa continuou essa prática. Desse modo, eu apenas irei ler:


Se você escutar, escute com o ouvido do surdo - tudo que você ouve, é um eco!

Se você olhar, olhe com os olhos do cego - todas as formas são reflexos!

Se você precisar destruir algo, destrua a ignorância - pois todos os sofrimentos dos seres sencientes são causados pela ignorância, a auto fixação!

Se você quiser cultivar algo, cultive a lucidez em si, a sabedoria primordial, fresca e auto surgida - pois ela é auto liberada.

Se você olhar, olhe para o espelho da mente - pois a essência do Dharma, a verdade de todo o Dharma sagrado é: se você realiza um, você realiza tudo.


Esses cinco versos são muito preciosos para Naropa, porque o Tilopa o ensinou isso, e eu enquanto seguidor do Naropa, após cerca de novecentos anos, quase mil anos, eu me sinto tão abençoado em ouvir essas palavras. Então eu compartilho isso com todos vocês e desejo o melhor.



Dedicação

Hoje, eu devo repetir mais uma vez: o mundo passou por tantas dificuldades, a pandemia com a primeira onda, depois a segunda onda, terceira onda, essa variante, aquela variante, tudo isso. E ao mesmo tempo, recentemente, tantos fenômenos naturais. Eu acho que isso está relacionado ao aquecimento global ou coisas desse tipo, eu não sou um cientista, então eu não sei com certeza as causas e condições exatas, mas tantos deslizamentos de terra, tantas enchentes, tantos terremotos e tantos desastres ou episódios, eu digo “desastres” porque essas coisas não eram supostas de acontecer. Então, essas coisas causam tanto caos, tanto medo, tanta preocupação, ansiedade, e tantas pessoas perderam as suas vidas e não apenas isso, tantas pessoas perderam as pessoas amadas, elas terão que viver o resto da vida delas com esse sentimento de perda dos seus entes queridos, como pais, filhos, amigos, tantas pessoas, amigos, e também algumas vezes as pessoas têm alguns animais, como cachorros e gatos, e elas são tão próximas deles, e elas os perderam. Sendo tão grande quanto um elefante ou cavalo, ou tão pequeno quanto um canário e um peixinho dourado, eles foram perdidos, e esse tipo de coisa não é algo que nós podemos menosprezar e negligenciar, porque os sentimentos das pessoas estão ali. Então, essas grandes perdas e em cima disso, as perdas de propriedades e as perdas financeiras são enormes. Desse modo, nós oramos e dedicamos o mérito desse ensinamento em particular ao benefício de todos os seres sencientes, para que superem todo o sofrimento e além disso, nós oramos para que nada assim se repita. A prece, quando nós oramos, não precisa ser pragmática, a prece precisa ser culminante. Nós oramos assim "Possam todos os seres sencientes serem livres, possa não haver mais desastres naturais e nem pandemias", nós oramos dessa forma. Então, por favor, ore junto comigo.



Transcrição e tradução de Dani Karma Yeshe Dawa.


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