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As Práticas das Crianças dos Vitoriosos: Instruções na Conduta - parte 1

As Práticas das Crianças dos Vitoriosos: Instruções na Conduta

(Extraído do comentário de Khenpo Karthar Rinpoche sobre o texto " Dharma de Montanha" de Karma Tchagme = Raga Asya / 1613-1678)

Conduta significa como você vive o tipo de vida que você emprega, como sendo um recipiente para a prática. Esse tópico é apresentado nessa parte no Dharma de Montanha porque a conduta ou o modo de vida é aquilo que primordialmente determina o sucesso ou não da sua prática. Esse capítulo fala em como emular, de um modo apropriado, a conduta dos grandes bodhisattvas e grandes iogues do vajrayana. Por essa razão, o título do capítulo é "As Práticas das Crianças dos Vitoriosos".

O capítulo começa com a invocação NAMO VAJRADHARAYE! "Homenagem a Vajradhara e continua com a afirmação; "A raiz do progresso na prática é a conduta". O que Tchagme Rinpotche quer dizer é conduta apropriada, vivendo ou se portando de um modo que seja sua real situação. Então ele diz, " Uma pessoa comum não deveria tentar agir como um iogue". Uma pessoa comum, sem a realização de um iogue, não deveria tentar fazer uma conduta de um iogue, pois só levaria ao desastre porque uma pessoa como não tem as qualidades que faz esse tipo de conduta ser natural e apropriada. Da mesma forma aqueles que tem atingido algum nível de experiência "ióguica" no caminho Vajrayana não deveriam tentar imitar a conduta de um siddha, porque eles não possuem as qualidades que faz que tal conduta seja apropriada. Finalmente, os siddhas não deveriam agir com a conduta de um Buddha. Aqueles que obtiveram siddhis supremo mais não atingiram a completa budeidade não deveriam atuar como se eles tivessem.

O problema com todas essas situações é que se aqueles em um nível inferior tentar imitar a conduta ou modo de alguém em um nível elevado, é como uma raposa saltando a mesma distância que um leão. Raposas que tentam saltar um abismo que um leão salta não conseguirá. Elas cairão e quebrarão suas costas. Do mesmo modo se você engaja em uma conduta que é muito avançada para você então acabará quebrando suas costas.

Pela mesma razão, aqueles em níveis elevados não deveriam se conduzir da forma daqueles dos níveis inferiores. Em outras palavras um Buddha não deveria se comportar como um mahasiddha; um mahasiddha não deveria se comportar como um iogue comum e um iogue comum não deveria se comportar como uma pessoa comum. Se você tentar agir igual a alguém em um alto nível a conduta é perigosa, mas, nesse caso a conduta é um desperdício de tempo. É como um adulto agindo como uma criança. Em suma, as regras que conduzem sobre o assunto de conduta é, estar apropriado à sua posição. Você deve calcular honestamente o seu nível de corpo, fala e mente e se comportar de acordo.

Tradicionalmente há cinco tipos de condutas a serem conduzidas pelos siddhas. nesse caso siddhas significa aqueles a quem todas as aparências surgem sem esforço como a divindade, um mantra e sabedoria. Essas são as condutas que são a disciplina da lucidez, a conduta da vitória completa, a conduta de cães e porcos, a conduta do insano e a conduta de um leão. Nesse ponto Tchagme Rinpotche diz: " Primeiramente, porque não tenho experiência nessas condutas e segundo porque não vejo necessidade para isso eu não vou descrevê-las ". Quando ele diz que não tem experiência nessas condutas, ele está sendo modesto porque eles já alcançaram os bhumis de um bodhisattva. A verdadeira razão de eles não as descrevê-las é que muito poucas pessoas atingiram um nível, onde esses tipos de condutas são necessários. Assim ninguém necessita de instruções nesse tipo de conduta.

Continuando, Karma Tchagme explica em sequência os tipos de conduta que nós precisamos para praticar. Essas são: a conduta de um prisioneiro, a conduta tal como uma abelha, a conduta de chefe de família, a conduta de um cervo ferido, a conduta de uma pessoa insana, a conduta de cachorros e porcos, a conduta de uma andorinha entrando em seu ninho e a conduta de Samantabhadra.

A CONDUTA DE UM PRISIONEIRO

O primeiro tipo de conduta apropriado para alguém que deseja praticar o Dharma é chamado de " A conduta de um prisioneiro". Você toma atitude que você está numa prisão da qual você deseja escapar. Se você foi preso você não pensaria outra coisa além de escapar. Do mesmo modo, a conduta básica, a atitude básica de um praticante do Dharma é o desejo de escapar. Isso é o que te motiva a praticar, a juntar as acumulações e dispersar os obscurecimentos.

Quando você entra no portão do Dharma, você tenta o seu melhor para escapar da categoria de chefe de família, o qual significa que você tenta escapara de uma existência completamente mundana e torná-la dármica. Depois que você entrou na prática do Dharma, você tenta escapar da categoria que tem o Dharma na aparência e sem o Dharma em suas mentes. Por exemplo, isso significa ser ordenado e adotar a aparência de um praticante, mas não tendo treinamento, nem prática e nem realização. Finalmente você tenta escapar dos seis reinos do samsara. Você está escapando do reino da grande bem-aventurança chamado o reino de Sukhavati ou para qualquer outro reino puro. Enfim, você está tentando atingir o estado além do retorno. Esses três modos de escapar compreende a conduta de um prisioneiro.

A CONDUTA TAL COMO UMA ABELHA

O segundo tipo de conduta chamado " A Conduta tal como uma abelha" segue juntamente com o primeiro tipo, mas começa um pouquinho depois. Esse é um tipo de conduta que você precisa quando está recendo empoderamentos, transmissões e instruções da prática. Quando a abelha está tentando tirar o néctar das flores para tirar o mel, ela é totalmente imparcial com relação às flores. Elas simplesmente tentam coletar o máximo possível de néctar de muitas flores diferentes. Uma vez que tenha coletado néctar de uma flor ela não fica flutuando ao redor dessa flor, mas vai para outra diferente. Mas, enquanto indo para uma outra flor a abelha não sente qualquer aversão à flor anterior.

Do mesmo modo quando você recebe instrução você deveria ser imparcial em ralação aos professores de quem você recebeu. A coisa especifica aqui é que você deveria ser imparcial com todos os mestres espirituais que não são afetados por samaya quebrado. Isso não inclui aqueles com samaya maculado ou os que vieram de uma linhagem de samaya maculado. Dentro desses parâmetros você deveria tentar receber empoderamentos, transmissões e instruções o máximo possível de mestres autênticos e qualificados.

Razão para essa analogia da abelha é que, tendo recebido empoderamentos e instruções etc. de um dado mestre você não deveria ficar com o mestre por apego a ele. Em vez disso você segue a diante de modo a não quebrar samaya. A função do mestre é ensinar, conceder empoderamento, transmissão e instruções. Um mestre não está lá para você se tornar íntimo com ele. Uma vez que você recebeu instruções desse mestre você deveria seguir a diante. Se você fica e não segue a diante, o processo de intimidade fará você projetar negatividades naquela pessoa e vai deteriorar um relacionamento e a transmissão. Por essa razão o Gyalwang Karmapa tem dito " Para todos aqueles que me veem, não há reinos inferiores e para todos aqueles que me conhecem bem não há liberação". Simplesmente por ver um grande bodhisattva fecham os portões para o renascimento nos reinos inferiores, mas se você se torna muito íntimo e acostumado com eles que você projeta sua própria negatividade neles você deteriora o benefício de sua influência e assim fecha o portão para sua liberação. A conduta tal qual uma abelha é estudar ecleticamente sem se tornar apegado e então demasiadamente íntimo com um mestre em particular, mas fazendo o fazendo sem desenvolver aversão por qualquer mestre como na analogia das abelhas e flores. Em seguida Tchagme Rinpotche discute a questão dos mestres com quem você não deveria estudar. Você não deveria estudar qualquer um cuja samaya é impura ou cuja transmissão vem de uma fonte com samaya quebrado. Mesmo se acontecer de você receber empoderamentos e transmissões de uma tal fonte não as registre. " Não as registre" se refere aos mestres que mantem um registro de empoderamento e transmissões que eles recebem de forma a saber quais eles estão autorizados a transmitir. Você não está autorizado a transmitir qualquer empoderamento ou transmissão que você recebeu de uma fonte incompleta. Assim não conte com elas e não as pratique. Se você recebeu empoderamentos ou transmissões de alguém que não é autêntico não as pratique e não as transmita para outros. Tchagme Rinpotche não está dizendo isso pela sua própria autoridade, isso foi dito pelo grande terton Dudul Dordje. Não confundir esse Dudul Dordje com o 13º Karmapa porque, ainda que tenha o mesmo nome, são pessoas diferentes.

Algumas práticas podem ser feitas sem empoderamentos. Por exemplo a prática de Amoghapasha, uma prática de Tchenrezig do kriya tantra, você pode fazer a prática de reparação e purificação mesmo que você não receba esse empoderamento. De acordo com Sakya Pandita mesmo sem o empoderamento você recitar o dharani de Amoghapasha. Você também pode fazer a prática de Nyungnê do Tchenrezig de mil braços sem receber o empoderamento. Fora essas, muitas das sadhanas do mantra secreto não devem ser feitas por qualquer um que não tenha recebido o empoderamento.

Praticar uma sadhana da qual você não teve empoderamento é considerado equivalente a roubo, porque você está usando alguma coisa que você não tem o direito de usar. O empoderamento é uma cerimônia que transfere a propriedade da prática para você e lhe dá o direito para realizar o corpo, fala e mente de uma divindade em particular. A fonte de um empoderamento tem que ser genuína porque é como a corrente de um rio. Se esse fluxo for interrompido em qualquer ponto. A cerimônia não vai transmitir coisa nenhuma. É por isso que tem o nome de "a corrente ou fluxo de empoderamento". O empoderamento necessita vir de uma linhagem ininterrupta, sem uma samaya comprometida e você precisa receber de fato um empoderamento. É por causa disso que nós damos muita atenção a enumeração da sucessão das linhagens. Nós sempre cantamos a liturgias dizendo o nome de cada indivíduo na sucessão, um após o outro, para nos lembrar da linhagem ininterrupta de uma dada transmissão.

Se você não recebeu o empoderamento ou ele veio de uma linhagem interrompida então mesmo se você tomar o auto empoderamento, isso não ajudará você. O auto empoderamento não vai poder substituir e de fato será um problema porque você vai fazer a prática do empoderamento e nada acontecerá. De fato, isso vai causar mais degradação da sua prática.

A melhor situação é o empoderamento e a transmissão oral completa para o ciclo de prática que você deseja fazer. "Transmissão oral completa", significa transmissão oral para as liturgias que você usará assim bem como os comentários e todas as partes relacionadas. Se isso não é possível, a segunda melhor coisa é o empoderamento e a transmissão oral completa para liturgia. Mesmo se você não receber a transmissão oral para os comentários e assim por diante, receber a transmissão oral para liturgia é suficiente para praticar. A terceira melhor coisa para fazer é receber o empoderamento. Se você recebe o empoderamento mais não a transmissão oral então você está obtendo o núcleo ou a essência da transmissão oral através empoderamento em si. Isso é porque a descrição da divindade, que é a parte central da liturgia, e o mantra da deidade serão recitados para você no empoderamento. Então, se falta todos os outros um empoderamento é o suficiente para a prática.

Pode haver uma situação onde você pratica o ciclo, mas muitos dos textos necessários não estão mais disponíveis. Isso quer dizer, os livros existem, mas as transmissões orais não estão mais disponíveis, tal como o tantra original, os comentários originais indianos dos textos pelos mahasiddhas, as várias extensões das liturgias básicas tais como as aplicações para as quatro atividades, os vários estágios de instruções conectados com o sutra, o tantra e assim por diante. Se você é genuinamente e naturalmente devotado a esse ciclo, mas não há uma única fonte para a transmissão oral devido a ter se perdido, mas se você pode entender o significado dos textos simplesmente por lê-los, o qual é uma indicação que você tem conexão cármicas com eles, e se você adquirir os textos de uma maneira aparentemente acidental, não indo a procura deles mas apenas cruzando com eles ou por ter sido dados a você, então faça o seguinte: ofereça uma mandala aos textos, coloque-os no topo da sua cabeça e pense que os textos são confiados a você pelas dakinis que são as guardiãs desse ensinamento específico.

A validade dessa prática pode ser corroborada pelas aspirações de guru Rinpotche e outros mestres que frequentemente afirmam: "Que isso possa ser encontrado por aqueles com karma". Em outras palavras: "Que possam aqueles com conexão kármica com esses ensinamentos virem a encontrá-los". É a aspiração de Guru Rinpotche e outros mestres que as dakinis que guardam os ensinamentos, os faça disponíveis aos indivíduos que tenham conexão kármica com eles. Essa aspiração foi intencionada principalmente para os reveladores de tesouro que descobrirão os ensinamentos. Porém, por implicação, refere-se também aos praticantes cuja situação seja um pouco parecida. De acordo com Drime Kunga, o mestre de Karma Tchagme, é aceitável considerar que você recebeu a transmissão oral para um texto, se ele está conectado com sua prática de yidam, que ele seja absolutamente necessário para você usar e que não haja a possibilidade de receber a transmissão de uma pessoa viva, e se aparentemente esse texto veio parar em suas mãos, e se ele é de benefício e ajuda para sua prática. Se essas condições vierem a ocorrer você pode considerar ter recebido este texto da linhagem de atribuição das dakinis. Se você recebeu um texto acidentalmente e o considera como atribuição da linhagem das dakinis, isso serve para sua própria prática, mas você não está autorizado a transmiti-lo a outros.

Principalmente isso se refere as práticas que vêm da tradição Nyingma. Se for uma prática da tradição Kagyu, o método de prática é outro. Isso depende de possuir ou usar uma thangka que contém as marcas dos pés ou algumas vezes das mãos dos pais e filhos da tradição Kagyu. No passado, thangkas com os desenhos dessas mãos e pés, que foram preenchidas com ouro eram consideradas mais preciosas que as thangkas retratando esses mestres. Isso porque a imagem não foi pintada pelo próprio grande Guru. Foi pintada por uma outra pessoa. Então, fora sendo a representação do Guru, isso de fato não incorpora o Guru em qualquer modo em particular, enquanto que as marcas dos pés e das mãos foram feitas pelo próprio mestre, fazendo que isso seja muito mais conectados com eles. Essas coisas então eram muito valiosas.

Para a seguinte prática você pode usar uma thangka igual a essa ou se tiver acesso uma que tenha a impressão das pegadas de Buddha. Essas eram grandemente valiosas no passado. Nos dias atuais elas são de alguma forma mais disponíveis e assim as pessoas parecem ter menos respeito por elas.

De qualquer forma, pendure uma thangka com as marcas dos pés ou das mãos e então coloque as oferendas em frente a ela. Você considera a thangka como o guru que detém uma linhagem, específica ou que é a fonte de tal linhagem da transmissão oral que você deseja receber. Recite a liturgia do convite, das oferendas, das homenagens e então ofereça a mandala e gere a certeza que este guru está de fato presente. Suplique pela concessão da transmissão oral usando, por exemplo, o verso usado para requisitar ensinamentos e assim por diante. Então, pensando que o mestre, que de fato está presente está de fato concedendo a transmissão e que você de fato a está ouvindo leia o texto todo de uma vez. Enquanto assim o fazendo, pense que as palavras do texto emergem da boca do mestre visualizado em frente e dissolve dentro de você. Ao final coloque o livro no topo de sua cabeça. Então recite a seguinte aspiração: "Pela verdade das Três Joias, pela benção de todos os Buddhas e Bodisatvas, pela grande maestria da perfeição das duas acumulações e pelo inconcebível poder da pureza do Dharmadatu além da elaboração, que isso se realize como tenho aspirado". Então recite três vezes o dharani da Essência da Interdependência.

Esse modo de receber a transmissão oral é chamado de "A prática secreta das marcas" e originalmente as instruções vieram do inigualável Gampopa. Uma explicação sobre isso foi também composta por Mikyo Dordje, o 8° Gyalwang Karmapa. Ambos afirmam que a transmissão recebida dessa maneira pode ser usada para sua própria prática pessoal. Além do mais, Lorde Gampopa disse que você pode transmitir isso para outros, enquanto que o 8° Karmapa disse que, ao menos que você de fato testemunhou a presença de tal Guru a sua frente ou que ao menos ele ou ela tenha de fato aparecido enquanto você estava fazendo isso, você não pode passar isso para outros. Ainda que suas opiniões pareçam divergir, na verdade eles estão dizendo a mesma coisa: você pode fazer a prática e, se você gerou realização nela, pode transmiti-la para outros.

Outra fonte para esse tipo de cerimônia é o Tantra do Grande Corvo, que é um tantra conectado com o protetor de sabedoria de quatro braços. Este texto diz que receber a transmissão dessa maneira não é diferente de recebê-la de seu Guru. Para o mesmo propósito há outra cerimônia chamada de " empoderamento de transmissão de Lama Gongdu". Ela foi composta por Guru Rinpotche e é parte desse ciclo de terma. Você pode usá-la para qualquer ensinamento para qual você não recebeu a transmissão. Isso pode ser de algo vindo da tradição da Nova Tradução ou da Antiga Tradução, bem como pode ser de alguma coisa do sutra ou tantra. De qualquer forma, coloque um livro do lado direito em um trono e então a esquerda do livro em cima de oito monte de grãos ou um lótus de oito pétalas feito de grãos, coloque uma imagem do Buddha feita de ouro ou outro material qualquer. Além do mais é melhor se você puder fazer essa cerimônia na presença de quatro monásticos completamente bhikshus. Se não for possível pense que quatro bhikshus ou mais estão presentes.

A cerimônia em si começa com a observância comum de Oferendas e Homenagem aos Dezesseis Anciões. Você pode fazer a cerimônia completa, longa para esta observância ou pelo menos uma consagração elaborada onde você faz a cerimônia. Então suplique a Buddha pedindo a ele para conceder a transmissão a você. Então pense que o Buddha com sua voz melodiosa, lê o texto para você. Se você está fazendo a cerimônia dessa forma você tem que ler o texto em voz alta. No fim, coloque o livro no topo da sua cabeça e recite 3 vezes o dharani da Essência da Interdependência. Pense das palavras do texto, as quais são feitas de luz branca, saem da boca do Buddha e entram no topo da sua cabeça e se dissolvem em seu coração. Novamente ofereça uma mandala, recite liturgias de dedicação, de aspiração, de auspiciosidades e então repouse livre de foco. Após isso você deveria de novo dedicar a virtude e fazer mais aspirações. Para reforçar a cerimônia você deveria fazer coisas virtuosas para acumular mérito, tais como generosidade para os mais pobres, fazer ou reparar estátuas e assim por diante.

É dito que se você faz o empoderamento de transmissão de Lama Gongdu, é como se recebesse a transmissão do próprio Buddha seja um sutra, um tantra, uma sadhana, um comentário ou alguma outra coisa. Isso depende da sua fé. Se você acredita que é o mesmo que receber do Buddha, então assim o será. Se você não tem certeza, se fica pensando se está ou não realmente funcionando ou pensar que não sente realmente da mesma forma quando recebe um lung, então isso não vai funcionar.

Se subsequentemente você gera uma experiência autêntica da prática, daí você pode passar a linhagem da transmissão para outros. Isso é de importância principal na seguinte situação. Quando mestres eruditos compõem comentários, tradicionalmente eles reforçam suas afirmações ou instruções com citações. As citações serão tanto de fontes budistas e bönpos, de sutras, de tantras das novas e antigas traduções e assim por diante. Quase é uma necessidade que você preencha qualquer coisa que você escreva com tais citações. Após ter escrito seu texto, você dará a transmissão para outro que passará a diante, e dessa forma a linhagem de transmissão do seu texto continuará. Obviamente se a metade do seu texto for de citações e você não tem a linhagem de transmissão dessas citações, não há a possibilidade de haver uma linhagem de transmissão pela metade do que você escreveu. Assim sendo se você vai incluir citações de textos que você estudou, mas dos quais você não tem a linhagem de transmissão, Tchagme Rinpotche diz que é melhor você fazer essa cerimônia primeiro. Se você tem certeza que tem todas elas, está tudo bem, mas normalmente esse não é o caso porque as citações estarão por todos os lugares. Essa cerimônia é verdadeiramente benéfica. Tchagme Rinpoche diz que isso é muito melhor do que receber uma transmissão comum de uma linhagem pura com samaya quebrada ou recebê-la, mas não tendo a certeza de onde ela veio, porque nesse caso você está recebendo diretamente de Buddha. Isso foi afirmado por Buddha Shakyamuni e Guru Rinpotche, assim como pode haver qualquer dúvida quanto à sua autenticidade?

Podemos ver essa "conduta tal como uma abelha" na vida de Ngoklo Loden Sherab e de outros eruditos dessa tradição. Eles dedicaram suas vidas a receberem o tanto quanto possível de transmissões, empoderamentos e instruções. Para fazer isso você tem que aceitar o fato de que nem todos os mestres de quem você recebe transmissão serão deste nível. Lorde Atisha disse que confiava em muitos professores que não possuíam um centésimo ou mesmo um milésimo de suas qualidades, mas ele confiava porque eles detinham as linhagens de transmissões e empoderamentos que ele desejava receber.

Por exemplo, o mahasiddha Thangtong Gyalpo teve quinhentos e quinze ele confiava em todos os tipos de pessoas de todas as diferentes classes sociais: algum deles eram letrados, em alguns casos eles eram pessoas degeneradas e algumas eram viúvas que naquele tempo eram discriminadas, mas todos eles detinham as linhagens que ele desejava receber. Da mesma forma se você vai engajar nessa conduta você não precisa ficar preocupado com os defeitos pessoais dos vários mestres que você recebe o Dharma ou com quem você faz conexões dhármicas.

A analogia é que quando a abelha tira o néctar da flor, ela não se importa se a flor é bonita ou não ela simplesmente está preocupada se a flor tem néctar. Se a flor tem néctar, então a abelha pega o néctar. Por adotar essa abordagem, que será discutida e então determinada mais à frente no texto, você se torna rico em empoderamentos, transmissões e instruções.

Um exemplo mais recente disso é o de Djamgon Kongtrul "O Grande", que para reunir o que agora nós chamamos de Cinco Tesouros, ele foi para todo o oeste, o centro e o leste do Tibete para receber todas as transmissões e linhagens. Ele recebeu de qualquer um que os detivessem. Quando fosse possível receber uma transmissão ele assim o fazia, e quando não havia mais qualquer linhagem de transmissão para uma liturgia, ele então compunha uma nova.

A validade dessa abordagem é que, mesmo que você receba a transmissão de um ser humano imperfeito, isso não afeta a autenticidade do Dharma. A analogia para isso é que, desde que a água chegue ao campo, é irrelevante se a tubulação está limpa ou suja desde que ela não esteja partida. Esta é a opinião do grande pandita Loden Sherab, e nós vemos esse tipo de abordagem incorporada na vida dele.

Há uma outra opinião, que foi expressada pelo Gheshe Drömtonpa, o grande mestre Kadampa, por Tsangpa Gyare da tradição Drugpa Kagyu e por Mikyo Dordje, o 8º Karmapa. Eles, assim como outros, disseram que, se utilizar observações mundanas com um grão de sal e não as aceitarem pelo seu valor, examinando-as e analisando-as cuidadosamente, o quão mais cuidadoso você deveria ser com a fonte de informação, que supostamente é o seu meio para realizar seu objetivo final?

De acordo com o Gyalwang Mikyo Dordje e outros, você não deveria fazer qualquer conexão dhármica sem cuidadosamente analisar as características pessoais dos indivíduos em uma linhagem e os indivíduos de quem você vai receber uma transmissão. Se você descuidadamente faz conexões dhármicas em todos os lugares, você está adquirindo samaya comprometido. É a mesma coisa como consertar uma corda podre e com defeito, com um cordão de couro podre.

Você tem que remendar a corda, mas ela ainda está apodrecida e ainda assim vai partir. As instruções se tornam igual a tsampa de um mendigo, que com certeza vai acabar. Você se torna igual a um garoto que deseja defender sua família, mas não sabe quem é seu pai. Em suma, você fica incapaz para de fato deter qualquer linhagem porque você não ciência de onde sua linhagem veio. A opinião dos mestres é que é mais benéfico ter um mestre. Você deveria escolher esse mestre sem erro, praticar suas instruções e deste modo obter os estados do despertar, que é o estado de soberania da Kagyu. Exemplos disso são os lordes Marpa, Milarepa e Gampopa, que confiaram principalmente em um mestre.

Essas duas opiniões soam totalmente contraditórias, mas agora Tchagme Rinpotche irá juntá-las. O Guru raiz de Tchagme Rinpotche, o vitorioso Tchökyi Wangchuk, disse que se você precisa saber muito para beneficiar outros, você tem que estudar sabiamente. Você precisa conhecer os costumes da Índia, da China, as tradições dos grandes panditas e as dos siddhas. Você precisa de tudo isso se você vai se tornar amplamente educado. Em termos do que se pratica de fato, se obter o que se pratica torna-se muito complexo (ele quis dizer que se for obtido de muitos lugares diferentes), então sua prática, seu Dharma e seus mestres se tornam muito indefinidos. Karma Tchagme cita Tchökyi Wangchuk: "Eu penso que há o perigo de se tornar igual a uma pessoa rica vivendo no meio de um furacão".

Assim, mesmo que você receba muitas transmissões e instruções de todos os lugares, a essência do que se pratica deve vir de uma linhagem pura. Tchagme Rinpotche escreveu que, mesmo que você confie em muitos mestres diferentes, o mestre ou o Guru para quem você suplica deve ser alguém que você não finja ser um Buda, mas alguém que você realmente sabe que é um Buda, tais como os pais e filhos da tradição Kagyu.

Isso traz à tona o assunto de que você possa não ter acesso a tais mestres. Isso era muito mais o caso no passado do que hoje. Devido aos modernos meios de transporte da atualidade nós podemos encontrar os pais e filhos da tradição Kagyu. Antigamente se alguém os encontrasse uma ou duas vezes na vida, era realmente uma oportunidade rara. Mesmo se você não se encontrar com os pais e filhos da tradição Kagyu, e mesmo que nunca os encontrou e nunca formou uma conexão dhármica pessoal com eles, você pode ainda tomar qualquer um deles como seu Guru raiz. Se assim o fizer e assim o suplicar unifocadamente, você receberá suas bençãos e dará surgimento a experiências e realizações autênticas. Isso foi afirmado pelo Lorde Gampopa, pelo 1º Gyalwang Karmapa Dusum Khyenpa e pelo Lorde Gotsangpa em seus últimos testamentos. Todos eles disseram que qualquer um que os suplique receberão suas bençãos, mesmo que eles nunca tenham se encontrado. Entender isso é muito importante.

Continua...

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