Estamos finalizando agora, de forma muito auspiciosa, o 25° Kagyu Monlan e não existe muita coisa que possa ser dita por um tolo como eu. Uma grande assembléia de monges e monjas de diferentes monastérios Kagyu compareceu aqui. Da mesma forma, há pessoas que vieram de Ü, Tsang e Kham no Tibet. Grande número de pessoas de terras estrangeiras, tanto no oriente quanto no ocidente, também compareceu. Que todos vocês tenham vindo é, como já disse, uma grande e maravilhosa sorte para todos nós, eu próprio e vocês, e estou muito feliz por isso.
No ano passado, no último dia do Kagyu Monlan, eu disse algumas coisas sobre o tema de abandonar o consumo da carne. Quase todos vocês provavelmente sabem disso. Parece que algumas pessoas não entenderam inteiramente o que eu disse. Alguns estudantes estrangeiros, por exemplo, pareceram entender que, assim que você se torna um praticante da linhagem Kagyu, há uma proibição absoluta de que a carne passe pelos seus lábios. Eles disseram para Kagyupas carnívoros: “Você não pode ser um Kagyupa se comer carne”. Eu não disse nada tão radical. Se um praticante mahayana, que considera todos os seres sencientes como sendo semelhantes a seus pais, comer carne de outro ser de forma descuidada ou não compassiva, isso não é bom. Assim, devemos pensar sobre isso e prestarmos atenção. Todos nós, praticantes mahayana, que aceitamos que todos os seres sencientes foram nossos pais e mães, precisamos pensar sobre isso. Por esta razão, seria bom diminuir a quantidade da carne que comemos. Foi o que eu disse.
Eu certamente não disse que vocês estão proibidos de comer carne. Isso seria difícil. Seja por seu karma anterior ou por suas circunstâncias presentes, algumas pessoas não podem passar sem carne. É assim, e não há nada a fazer a respeito. Não é um problema.
Se você tem que comer carne, existe uma maneira correta de fazê-lo. Não apenas a pegue e enfie na boca assim que for colocada no prato. Se primeiro você pensar cuidadosamente sobre ela, meditar sobre a compaixão e recitar os nomes de budas ou mantras antes de comê-la, então teremos alguns efeitos positivos.
Quando eu estava explicando isso no ano passado, disse que uma razão para abandonar a carne era para a longevidade dos lamas. Sua Santidade o Dalai Lama, Tenzin Gyatso, passou pelo seu “ano de obstáculo” de acordo com a astrologia tibetana, então isso visava sua longa vida. O próximo ano vai ser seu ano “pós-obstáculo”. Eu também citei meu próprio nome. Por um lado, pode ter sido levado pelo desespero que eu disse: “Se você fizer isso pela minha longevidade, isso seria uma boa coisa”. Algumas pessoas perguntaram de que forma o fato de desistirem de comer carne poderia me trazer uma vida mais longa. É difícil dar uma resposta direta a essa pergunta.
Mas, se não comermos carne, mesmo que não vivamos mais tempo, penso que teremos vidas mais felizes. Se apreciarmos a carne e sangue de outros seres, quando tivermos que ir, podemos sentir como se essa vida não tivesse sido bem conduzida. Teremos consumido de forma descuidada carne e sangue de outros seres. Isso pode acontecer, certo? Se não comermos carne, a vida pode não ser mais longa, mas existe a possibilidade de que seja mais satisfatória.
Muitos monastérios na Índia e Tibete tiveram a atitude grandiosa e positiva de abandonar a carne e passarem a preparar comida vegetariana. Esse é um bom exemplo de budismo em geral, e especialmente acho que isso se torna a prática do mahayana.
Aos nossos olhos, tais grandes lamas como Djamgon Rinpotche e Gyaltsab Rinpotche são a presença viva de Manjushri e Vajrapani. Motivados pela preocupação com os seres sencientes, eles pretendem se refrear de comer carne e se tornarem vegetarianos. Acho que o fato deles terem essa intenção é de fato uma grande fortuna pra todos nós seres sencientes, é uma boa fortuna para todos seus seguidores.
Alguns outros grandes lamas que estão aqui, Thrangu Rinpotche e Tenga Rinpotche, estavam presentes durante os tempos do Karmapa anterior, e eles são como os pilares dos ensinamentos. Através de suas vidas eles desenvolveram fortes hábitos de comer carne. Apesar disso, por seu cuidado com os seres e com os ensinamentos budistas, deram grandes passos nessa direção. Por essa razão todos nós, que nos dizemos seus seguidores, precisamos pensar sobre isso.
Cada um está, na realidade, fazendo o seu melhor. Por exemplo, no Tibete, nos velhos tempos, não havia como viver sem comer manteiga, queijo e carne. Agora, talvez por efeito de melhores condições ambientais, por terem os tibetanos uma fé tão forte, ou por serem determinados, os monastérios, mesmo em lugares remotos, prometeram abandonar a carne. Quando pensamos sobre isso, há muitos na India que, em geral, não gostam de comer carne. Assim, quando aqueles de vocês que vivem aqui desistirem da carne, isso não será nenhuma novidade. Para as pessoas do Tibete, entretanto, abandonar a carne é bem difícil. Eu gostaria de agradecer a todos eles. Precisamos continuar fazendo o melhor que pudermos.
Devemos contemplar os ensinamentos mahayana e os preciosos ensinamentos dos Kagyus. Os mestres Kagyu mais antigos abandonaram a carne, adotaram uma dieta vegetariana e desenvolveram um puro amor pelos seres sencientes. Se nós próprios pudermos realizar, mesmo que seja um mínimo, desse tipo de ação e começarmos com um pequeno passo, o resultado será extremamente bom, eu acho. Então, isso é o que eu tenho a dizer a respeito de abandonar a carne.
* Traduzido por Ringu Tulku Rinpotche e Karma Tchöpel
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