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As Práticas das Crianças dos Vitoriosos: Instruções na Conduta - parte 2-Final


A CONDUTA DE UM CHEFE DE FAMÍLIA

O terceiro aspecto da conduta de um praticante é a " Conduta de chefe de família". De fato, isso significa alguma coisa próximo a conduta de uma pessoa de negócios, como veremos na próxima analogia.

Aqueles que tem famílias estão imersos em negócios desde o momento que eles aprenderam a pensar até o momento que eles morrem estão preocupados principalmente em acumular o mais que pode de sustento e riqueza. Do mesmo modo aqueles que adentraram pela porta do Dharma do dia que eles receberam os votos de refúgio até o dia que eles morrem nunca deveriam estar contentes com a quantidade das duas acumulações que eles podem conseguir. Sua prática do Dharma consiste na acumulação de mérito que deve ser selado com a acumulação não conceitual de sabedoria. Assim como uma pessoa de negócios faz o que tiver ao seu alcance para ter mais lucro como praticante nós deveríamos também o que fosse para ter mais lucro, que nesse caso significa acumulação máxima de mérito e sabedoria.

Voltando à analogia, um mercador ou pessoa de negócios fará o que puder para ter ganhos. Eles viajaram e se envolveram em arranjos de negócios e contratos e vão honrar esses acordos para que seus ganhos sejam maiores. No contexto do Tibete eles viajaram para Índia e China e mesmo viajar para o centro do Tibete (Do ponto de vista do Leste) de forma a obterem lucro. Em suma, eles farão o que puder para aumentar seus lucros. Da mesma forma, aqueles que entraram pelo portal do Dharma deveriam fazer o que tiver ao alcance e fazer o que podem para transformar sua virtude. Aqui transformar significa aumentar, fazer mais lucrativo, fazer qualquer ato de virtude acumular mais mérito eu possa. Isso significa que na prática das quatro preliminares e recitações diárias nós tentamos fazê-las valerem o máximo possível.

Há três modos de maximizar nosso lucro na prática do Dharma. A primeira é a transformação baseada em um indivíduo e isso significa fazer algo virtuoso para o benefício de alguém que é um campo sagrado de acumulação. Por exemplo, oferendas feitas para alguém que é desperto acumulará mais virtude. O segundo é transformação através do lugar, que significa fazer ações ou práticas virtuosas que foram consagrados por indivíduos realizados.

Essas duas maneiras não são tão fáceis de se conseguir, assim o terceiro modo, transformação através do tempo é de importância principal. Essa maneira será aqui explicada em detalhe " transformação através do tempo" significa praticar mais, praticar de formas específicas e praticar apropriadamente em tempos específicos quando tal prática acumulará mais mérito. Devido a esta terceira maneira ser a mais fácil de se fazer o texto diz que todo mundo tente fazer esta.

Três coisas serão apresentadas aqui. A primeira são as épocas do mês, a segunda as épocas do ano e a terceira as horas do dia. A apresentação inicial das épocas do mês que tem significado especial é baseada no Sutra Uma Explicação do Mundo. De acordo com esse sutra no 8º dia da lua crescente e no 8º dia da lua crescente no mês lunar- em outras palavras o 8º e 23º dia do mês lunar- os servos dos quatro grandes reis vagueiam por todo o mundo. Eles assim o fazem para observar e registrar a conduta dos seres humanos. Eles registram em detalhe quaisquer ações virtuosas e não virtuosas feitas por cada um e então eles dão este registro para Indra, o senhor dos deuses. Se o que eles registram mostram que os seres humanos são mais virtuosos nessa época os deuses ficam deleitados, mas se o que eles registram mostram o contrário, os deuses ficam tristes. Uma cópia desse registro é também levada para Yama. Você já ouviu falar do pequeno livro de Yama que diz tudo que você fez durante sua vida; quando você está no bardo ele impede de você mentir sobre suas ações. Yama consegue essa informação porque é levado para ele pelos servos dos quatro grandes reis.

O primeiro dia que você realmente tem para prestar atenção na sua conduta é o 8º dia, que significa 8º e 23º dia do mês lunar. O 2º dia é o 14º dia em ambas as fases da lua, o qual significa o 14º e 29º do mês lunar. No 8º e 23º dia os servos dos quatro grandes reis estão a vagar. No 14º e 29º dias os deuses dos reinos dos quatro grandes reis " o mais inferior dos seis reinos do desejo" estão a vagar. Esses são de fato deuses daquele reino e não os próprios quatro grandes reis ou seus servos. No 15º dia que é o dia de lua cheia e o 30º dia que é o dia de lua nova os quatro grandes reis em pessoa vem para a terra e vagueiam pelos lugares. Não somente isso, mas o próprio Indra, o senhor dos deuses, vagueia por aí observando nossa conduta.

Nesses dias, o 8º, o 14º e 15º dias de ambas as fases crescente e minguante da lua, o que quer que façamos tem cem mil vezes mais poder que qualquer outro dia. Por exemplo, se recitarmos cem OM MANI PEME HUM, é o mesmo que recitarmos o mantra cem vezes multiplicado por mi l- quer dizer, dez milhões de recitações do mantra. Se você mata um inseto é o mesmo que tivesse matado mil insetos.

Certos dias do mês estão conectados com divindades específicas. Por exemplo, no 8º dia do mês o Buddha da Medicina vem a este mundo, e dessa forma a prática do Buddha da Medicina é mais efetiva nesse dia. Além do mais Tara Branca, a protetora Tseringma, a Dakini Kurukulle e as dakinis que tomam conta de vários reinos surgem todas neste mundo nesse dia e portanto, as práticas associadas com essas divindades serão mais efetivas nesse dia. No 10º dia da lua crescente e minguante, o 10º e 20º dia do mês lunar, as práticas associadas com Guru Rinpotche, Vajravarahi ou Vajrayogini, Tröma Nagmo, Chakrasamvara, o protetor Maning (que é o protetor assexuado) e dakas e dakinis em geral, serão mais efetivas. As práticas são especialmente efetivas durante o dia - quer dizer enquanto o sol está brilhando- do 10º dia da lua crescente, e nesse dia onde quer que você esteja no mundo é suposto que Guru Rinpotche esteja presente de fato. Portanto é recomendado nesse dia se recite o mantra de Guru Rinpochte, faça suas práticas e assim por diante.

O 15º dia do mês é a vez de Amitabha, portanto sua prática é especialmente recomendada nesse dia. Os três nonos- o 9º dia, o 19º e o 29º dia do mês lunar- são dias quando deuses e espíritos vagueiam pelos lugares. O 19º dia do mês foi quando Shamar Khatchö Wangpo, que foi fundamental no estabelecimento da tradição ampla da linhagem da prática, faleceu, desta forma sua celebração é tradicionalmente feita nesse dia.

No 9º e 11º dia da lua crescente e minguante- o 9º dia, o 11º dia , o 24º dia e o 26º dia do mês lunar, Mahakali e seu séquito estão a vagar. Assim os rituais conectados com ela são recomendados. O 28º dia do mês lunar é o dia quando o oitavo Gyalwang Karmapa, Mikyo Dordje, faleceu, assim bem como o nono Karmapa, Wangtchug Dordje e o sexto Shamar Rinpotche, Tchökyi Wangtchuk. Era comum ser costume nos monastérios Karma Kagyu realizar o que era chamado " A cerimônia de oferenda do vigésimo oitavo dia ", relacionado com o paranirvana dessas três figuras. Isso incluía a prática de Guru Yoga, festins e assim por diante. Também no 28º dia todos os yamas, o séquito do grande Yama, estão a vagar pelo mundo. Eles não estão a vagar para causar mal aos seres, mas somente para observar e registrar nossas ações virtuosas e não virtuosas. Assim como os servos dos quatro grandes reis, eles levam todos esses registros para Yama. Em geral fazendo as cerimônias de comemoração de nosso Guru no 28º dia é dito ser de mérito inconcebível. Isso é ensinado em muitos tantras incluindo o Tantra de Mahakala.

O dia de lua cheia, que é o 15º dia do mês lunar, é normalmente escolhido para práticas conectadas ao Buddha Shakyamuni. Nesse dia o Buddha Shakyamuni juntamente com mil budas deste éon afortunado, vem para este mundo. No dia de lua cheia, lua nova e 8º dia do mês, os três mestres (o que provavelmente significa os budas do passado, presente e futuro) de fato surgem. Portanto qualquer ação virtuosa tem cem mil vezes mais poder do que teria em qualquer outra época. Qualquer ação não- virtuosa também tem o mesmo poder. Isso foi explicado em particular por Lorde Atisha e Songtsen Gampo.

No 29º e 30º dia do mês lunar todos os protetores vagueiam, ou surgem, no mundo. É por causa disso que prática de Mahakala adicional é feita mensalmente e anualmente: no 29º dia de cada mês e especialmente no último 29º dia, que é o 29º dia do último mês do ano. Diz-se que é mais efetivo e mais benéfico praticar intensamente Mahakala nesse dia do que praticar por um ano inteiro, mas não nesse dia em específico. Isso foi dito pelo mahasidha Tsokye Dordje, Guru Rinpotche e outros.

As datas do calendário anual que tem significado especial são como seguem. Do 1º dia do primeiro mês tibetano até o 15º dia desse primeiro mês, são os dias durante o qual o Buddha Shakyamuni subjugou os tirthikas pela exibição de milagres. Esta é a primeira das quatro grandes ocasiões na vida Buddha, conhecida como Tchu Dawa. Nesses quinze dias qualquer coisa que façamos, virtuosa ou não virtuosa, será muito mais poderosa. Mais ainda será explicado no final dessa seção.

O 15º dia do quarto mês tibetano foi quando o Buddha entrou no ventre de sua mãe. É também o mesmo dia quando, vinte nove anos mais tarde ele se auto ordenou, e seis anos depois atingiu a budeidade. Tudo isso aconteceu no mesmo dia, e, portanto, esse dia é conhecido como "três tipos de ocasiões". O dia também é conhecido como Saga Dawa. É contado como uma das quatro grandes ocasiões, ainda que se comemore três diferentes eventos: sua entrada no ventre, sua auto ordenação e seu despertar ou iluminação. Todavia isso é verdade para todas as quatro grandes ocasiões, é especialmente no Saga Dawa que qualquer ação virtuosa feita, tal como a prática de nyungne, será incalculavelmente poderosa.

A terceira grande ocasião é o 4º dia do sexto mês tibetano, que é conhecido como Tchutö Dawa. Foi quando o Buddha girou a roda do Dharma pela primeira vez. A quarta grande ocasião é o 15º dia do nono mês tibetano e o 22º dia do mesmo mês, que é conhecido como Thakar Dawa. Esses são contados como um, mesmo sendo dois dias diferentes. No 15º dia o rei Bimbisara e outros reis da Índia, que eram patrocinadores do Buddha, suplicaram para que o Buddha retornasse do reino dos deuses, para onde ele tinha ido ensinar sua mãe. Os reis disseram que os deuses não tinham pressa, desde que eles não estavam indo para lugar algum, mas os humanos tinham tempo de vida incerto e, portanto, o Buddha deveria voltar para terra e ensinar. O Buddha prometeu retornar e no 22º do mês ele desceu do reino dos deuses. Esses dois dias são considerados como uma ocasião porque eles comemoram a mesma série de eventos.

Essas são as quatro grandes ocasiões da vida do Buddha: a exibição de milagres; a entrada no ventre, a auto ordenação e iluminação contada como uma ocasião; o girar do Dharmachakra; a descida do reino dos deuses. No Karma Triyana Dharmachakra (KTD) nós sempre tentamos programar o nyungne nesses dias porque eles são de grande benefício. Quanto de benefício? Em muitos sutras é dito que qualquer coisa virtuosa que você fizer nesses quatro dias terá um bilhão de vezes o poder que normalmente teria, de modo que esses dias são considerados extremamente importantes.

Com respeito à designação real desses dias no calendário anual tem havido algum desacordo entre fontes indianas e tibetanas. Essa explicação é baseada no sistema do pandita Shakyashri da Cachemira, que reuniu tantas fontes de sutras e tantras que estavam disponíveis, de onde estabeleceu as datas. Ele compôs um shastra que todos os tibetanos agora costumam concordar nas datas. Esta é a fonte que designa que as quatro ocasiões ocorrem em certos dias nesses quatro dias ou ocasiões, e se o indivíduo oferece uma única torma é o mesmo que oferecer um bilhão de tormas, desde que a primeira dessas ocasiões tem a duração de duas semanas. Se você vier a perguntar por que esses dias e ocasiões têm tal poder, isso é devido a terem sido abençoados pelo Buddha.

Outro assunto conectado tanto ao calendário anual e mensal é o eclipse. Seja quando for que você tome um empoderamento, implicitamente ou explicitamente você toma um samaya para recitar aquele mantra todos os dias. O melhor seria você fazer a prática inteira, mas se não puder você deve recitar o mantra. Para ter o maior benefício da repetição de todos esses mantras a recitação durante um eclipse solar ou lunar incrementa o poder. Se você recita um mantra em um eclipse lunar ele é um bilhão de vezes mais poderoso, assim cada mantra que você recita tem o valor de um bilhão. Se você recita um mantra durante um eclipse solar ele é mil vezes um bilhão mais poderoso - em outras, palavras um trilhão. Isto é ensinado me muitos sutras e tantras.

Portanto se é recomendado que nos dias de eclipses solar e lunar você tente recitar os mantras, mesmo que seja apenas uma mala de cada mantra do qual você recebeu empoderamento. Completo em um instante de lembrança, simplesmente visualize a si mesmo como a divindade e recite o mantra de qualquer divindade da qual você recebeu empoderamento tais como Vajrayogini, Tchenrezig, Tara, Vajrapani e assim por diante. Por assim fazer, recitando mesmo cem do mantra nesses dias específicos, você completa o requerimento de acumulação de mantra, em termos de número para aquela divindade em particular. Isso o autoriza a realizar certas funções que requerem ter completado um número requerido de recitações de mantra.

Por exemplo, para conceder um empoderamento, executar uma cerimônia de consagração, fazer uma oferenda de fogo ou realizar qualquer das quatro atividades, pelo regulamento tântrico você deve ter feito pelo menos o que é chamado uma " acumulação viável", o que significa aquilo o que for que esse ciclo de prática específica designa como uma acumulação viável do mantra requerido. Desde que todos os eruditos concordam que recitar um mantra cem vezes no dia de um eclipse constitui realizar uma acumulação viável, isto é feito por todos os novos amigos espirituais - em outras palavras, geshes que apenas obtiveram seus status e não tiveram ainda tempo de fazer muitas práticas diferentes. De acordo com as instruções dos mestres Kadampas isto é chamado de " plantando a semente de virtude no melhor solo", o que significa que o dia de um eclipse é um ótimo solo para acumulação.

As horas do dia que tem um significado especial são as seguintes. Alvorecer ou crepúsculo- quando o céu está começando a se iluminar, mas o sol ainda não surgiu- é a hora quando o Buda despertou. Essa é a melhor hora para prática que envolve reter a respiração, práticas conectadas com canais e ventos e qualquer tipo de prática com longevidade tal como Tara Branca.

Do alvorecer até o sol ter aquecido o solo- até o sol estar brilhando em tudo e aquecendo as coisas- é a melhor hora para pacificação. Nessa hora são apropriadas as práticas das divindades pacíficas e as práticas designadas especialmente para pacificar doenças e perturbações demoníacas.

Da hora que o sol aqueceu o solo até o meio dia é a melhor hora para atividade de incrementação ou enriquecimento. Práticas de divindades conectadas com incrementação ou qualquer prática que são designadas para aumentar a vitalidade, o mérito e prosperidade são apropriadas.

Do meio do dia até o pôr do sol é a melhor hora para práticas de poder e atração, de forma que as práticas de deidades conectadas ao poder e atração são apropriadas.

Quando o sol alcança o topo da montanha até de fato ele se pôr é a melhor hora para práticas de repelir. Repelir significa o repelir do infortúnio através de várias cerimônias assim por diante. Algumas vezes repelir é traduzido como "exorcismo", mas isso significa o rechaçar do infortúnio e não exorcismo.

Então do pôr do sol até meia noite- a hora que o céu começa a escurecer um pouco até meia noite- é a melhor hora para oferecimento de torma e oferecimento de festim, desde que isso é quando todos os dakas e dakinis se reúnem. Essa também é a melhor hora para recitar mantras irados. Em particular o crepúsculo é a hora quando o Buddha subjugou mara e, portanto, é a hora quando os maras tentam criar obstáculos. Nesse momento você deveria fazer a recitação de divindades iradas.

Do meio da noite até o céu começar a clarear na manhã é a melhor hora para conseguir a luminosidade do sono. Assim, é mais produtivo- e tudo isso é sobre produtividade ou ganho- fazer essas práticas específicas dessas horas em particular.

A CONDUTA DE UMA GAZELA FERIDA

O próximo tipo de conduta é " A conduta de uma gazela ferida". Uma gazela ferida não vai permanecer com o rebanho, mas irá para um lugar isolado. Lá irá se esconder e permanecer isolada do rebanho até estar curada. Do mesmo modo uma vez que tenhamos recebido os empoderamentos, transmissões e instruções requeridas, deveríamos entrar em retiro. E enquanto praticando em retiro deveríamos estar totalmente isolados. Se possível, isso significa nem mesmo se encontrar com a pessoa que compra comida ou cozinha para nós. Em suma, tentamos nos esconder completamente de qualquer um.

A CONDUTA DE UMA PESSOA INSANA

A conduta de uma gazela ferida inclui automaticamente" A conduta de uma pessoa insana" porque quando se está em retiro não se vai responder para qualquer necessidade exterior. Se nossos parentes pedem insistentemente que deixemos o retiro por causa de uma doença ou qualquer outra situação importante na família, mesmo com alguém dizendo: "Saia já ou cortaremos todas as relações com você", não responderemos. A falta de resposta para insistência de outros é igual a conduta de um louco.

A CONDUTA DE CACHORROS E PORCOS

" A Conduta de Cachorros e porcos" vai, de uma maneira concordante, ser realizada automaticamente quando estamos em retiro porque não consideramos coisas imundas que normalmente consideraríamos imundas, tal como urina, as gotas e assim por diante. Nós as usamos para ablução e nutrição, como somos instruídos pelas várias práticas e liturgias dentro da prática de retiro.

A CONDUTA DE UM ANDORINHA ENTRANDO NO SEU NINHO

A próximo tipo de conduta chamada de " A andorinha entrando no seu ninho " é também incluída automaticamente na prática de retiro. Isso pode realmente não se referir a uma andorinha, mas sim ao massarico ou a tordeira-do-mar que vivem nos penhascos. Esses pássaros não constroem ninhos, mas vivem nas brechas entre as rochas. Uma vez que entram nessas brechas eles ficam lá parados. Essa conduta é realizada quando praticamos em retiro.

Essa conduta, essencialmente, significa gerar certeza com relação as instruções antes de entrar em retiro de modo que, uma vez que entremos em retiro e comecemos a praticar não temos qualquer dúvida e podemos apenas praticar sem qualquer ressalva. Tendo recebido empoderamentos, transmissões, instruções e orientações, e antes de entrarmos em retiro, temos escrutinado por completo todas essas coisas de modo que realmente tenhamos determinado seus significados. Então quando praticamos, apenas praticamos. Não temos dúvida e nem confusão com respeito ao significado.

A CONDUTA DE SAMANTABHADRA

Todos esses tipos de conduta podem ser um pouco confusos, porque algumas vezes condutas diferentes são referidas pelo mesmo nome, e às vezes, a mesma conduta é referida por diferentes nomes, porém todos eles estão essencialmente incluídos dentro de um tipo de conduta, que é normalmente chamada de " A conduta de Samantabhadra" ou " A conduta de Brahmacharya". Essa é a maneira principal de conduta da Dagpo Kagyu, a começar com Gampopa. É principalmente através dessa conduta em si que todos os detentores da Dagpo Kagyu percorreram os vários níveis e caminhos.

Se perguntarmos do que essa conduta consiste, significa que externamente- na nossa aparência, no que vestimos, em nossas maneiras- praticamos o Vinaya. Esta conduta é para monásticos. Significa que adotamos completamente e implementamos externamente todos os regulamentos do Vinaya. Isso deveria ser feito de um modo que não seja nem muito rígido nem muito relaxado. Precisamos dizer isto porque os tempos mudaram desde que o Vinaya foi estabelecido pelo Buddha.

A respeito de não ser nem muito rígido nem muito relaxado, Tchokyi Wangchug, o Guru de Tchagme Rinpotche, diz que temos que ser como uma tigresa carregando na boca seu filhote. Tigresas carregam suas crias em suas bocas, mas, obviamente, se elas apertam muito forte com suas presas matarão suas crias, o que não é o que elas querem. Se elas não usam de tensão ou pressão o bastante para segurar o filhote apropriadamente então ele cairá. Do mesmo modo, quando levamos nossos votos não devemos ser muito rígidos nem muito relaxados.

Tchagme Rinpotche dá exemplo de coisas que ele pensa serem muito rígidas. Se você é um monástico, idealmente supõem-se que você tenha uma refeição por dia ao meio dia. Se você está inquieto sobre quando isso acontece, e se preocupa a respeito dessa refeição começar uns poucos minutos após o meio do dia ou se preocupa sobre leves regulamentos do Vinaya relacionados à ablução e consagração da água e assim por diante, e se você trata esses assuntos como fossem tão sérios como matar, então você está sendo muito rígido. Então você de fato está acorrentando-se com demasiados conceitos e ideias.

Exemplos de como sendo muito relaxado é se você ingere bebida alcoólica ou se você, igual a mim, come a tarde. Um dos regulamentos do Vinaya é que temos que filtrar a água que bebemos para proteger os animais e assim não os engolir e matá-los. Se você ignora isso por completo e toma água sem filtrar de lugares onde animais vivem nela, isso é ser muito relaxado. Outro exemplo é que se você abandona seus três mantos e tigelas de esmolar de forma que, mesmo alguém que o conheça, não possa dizer se você é uma pessoa laica ou um monástico, você está sendo muito relaxado.

Em termos de que conduta está no meio desses dois extremos deveríamos, se possível, manter a regra de um só assento, que significa que não devemos ter dejejum nem jantar. Podemos tomar líquidos tal como chá e água a qualquer hora do dia, mas se for possível deveríamos manter a regra de um único assento. Exceções à regra são quando estamos doentes, que nesse caso o Vinaya autoriza a comer apropriadamente a qualquer hora, ou se está acontecendo uma prática de banquete. Fora essas duas situações não coma à noite. Mesmo que não possamos manter a regra de um único assento, pelo menos não coma um jantar se você é um monástico.

Também não coma carne a não ser que seja de uma prática de banquete. Não deveríamos comer nenhum outro tipo de carne e especialmente não comer carne de um animal que foi morto especificamente para nós. Se podermos evitar carne que não seja carne de uma prática de banquete, isso é realmente bom. Se não pudermos ou não o fizermos, pelo menos não comamos a carne de animais que foram especificamente mortos para nós. Por exemplo- isso acontecia muito no Tibete- um Lama era convidado para uma refeição, e para servir ao Lama e seu séquito, as pessoas matavam uma quantidade de Iaques e outros animais. Devemos evitar isso em especial.

Evite bebida alcoólica como se fosse veneno. Nós podemos e, de fato, devemos ter bebida alcóolica quando realizamos uma prática de banquete porque isso é requerido pelo samaya, mas há diretrizes bastante claras nos tantras sobre a quantidade usada. Tipicamente é suposto ter uma colher cheia, mas isso não significa uma concha, mas sim uma pequena colher usada para esse propósito. Como alternativa, também não se preocupe se você se exceder na regra, simplesmente tome o tanto de bebida que aderir na ponta do seu dedo e ponha na boca, isso também é aceitável e mantém os votos. No máximo deveríamos beber uma taça de crânio de tamanho médio e não mais que isso. O Tantra Samvarodaya, que é um tantra de Chakrasamvara diz claramente que não deve ser mais que uma taça de crânio regular para um banquete, não importa quem você seja.

Do mesmo modo, é aceitável e necessário comer carne em um banquete porque isso enriquece os elementos e especialmente as gotas. Esta deveria ser a carne de um animal que não foi morto especificamente para o banquete, todavia é verdade que a carne de um animal morto para um banquete é melhor do o daquele que é morto sem nenhum propósito em particular. Porque, como isso foi registrado por Djatsön Nyingpo entre outros, se a carne de um animal é usada para prática de um banquete isso beneficia aquele animal.

Em geral, deveríamos manter os regulamentos principais e secundários sem denegrir qualquer um deles ou considerando algum deles sem importância. Para aquelas regras que não conhecemos ou somos incapazes de manter, e para as várias violações menores e assim por diante que possam ocorrer, deveríamos fazer a renovação e a purificação a cada duas semanas. Se estivermos em retiro não teremos o requisito da assembleia da Sangha para realizar a real renovação de Vinaya e purificação, de forma que deveríamos fazer a benção da renovação e purificação ou a tranquilidade da renovação e purificação.

Há várias subdivisões dentro da cerimônia de renovação e purificação do Sodjong. Tem a parte feita para repelir desastre, a de reparar as infrações, a parte da tranquilidade e assim por diante. Podemos fazer a parte da tranquilidade ou de benção por nós mesmos. Se temos uma tigela de esmolar, deveríamos comer a nossa refeição ao meio dia nessa tigela e desse modo seguir o exemplo do Buddha. Deveríamos preceder a refeição com o oferecimento de uma porção seleta usando um verso composto para esse propósito e, em seguida a isso, oferecer um tchangbu para Throma, como é feito Thubten Choling e outros lugares. Todos os dias deveríamos fazer todas as coisas que estão nos textos litúrgicos para as refeições.

Para dar surgimento e manter as faculdades de cuidado, plena atenção e alerta, sempre mantenha seus três mantos: um manto superior externo, um manto superior interno e um manto inferior, bem como uma peneira ou um filtro para a água. De tempos em tempos, particularmente nos dias especiais, tome o voto de bodhisattva na sua forma completa. Qualquer coisa que fizer, esteja certo de manter cuidadosamente a motivação de bodhichitta e motivação benevolente em todas as ações. Relembre que tudo que fazemos é simplesmente para o propósito principal de beneficiar todos os seres e ajudá-los a obterem o despertar insuperável. Não se desvie disso pensando que está fazendo por qualquer outra razão, tal como para acumular riqueza ou algo parecido.

Com relação a prática em si dentro do formato desse estilo de vida, pelo menos deveria ser a unificação, ou a prática integrada, dos estágios de geração e completude. Isso significa pelo menos a meditação na divindade e ao final da sessão o recolhimento dessa visualização, e se possível a meditação na forma da divindade como a unidade de aparência e vacuidade, lucidez e vacuidade, bem aventurança e vacuidade. Em nossa prática deveríamos enfatizar essencialmente o repousar no estado natural.

Com respeito a esse tipo de conduta, foi escrito o seguinte pelo vitorioso Tchokyi Wangchug, Guru de Tchagme Rinpotche, em uma curta canção chamada "A Dança do Dharma". " A Dança do Dharma" é normalmente parte da liturgia para os Seis Dharmas de Naropa, e é usada principalmente quando as pessoas saem de um longo retiro e cantam isso enquanto fazem uma certa dança exibindo os sinais de realização e experiência. Nessa canção ele diz, "externamente um bhikshu de Pratimoksha, internamente um bodhisattva e secretamente um yogi do mantra, como um detentor vajra de três tipos eu fico deleitado e feliz quando eu penso nisso". Ele não está dizendo isso para se gabar, mas refletindo no fato que ele mantém externamente os votos de Pratimoksha, internamente os votos de bodisatva e os votos de samaya através de sua prática. Ele fez uso perfeito do seu nascimento humano e, refletindo nisso, está cheio de alegria. A canção inteira segue assim. O refrão, "pensando nisso eu sou feliz e cheio de alegria", é uma constante em toda canção. Ele está expressando a satisfação que um indivíduo tem por fazer dessa maneira um uso apropriado da sua vida.

Com relação à conduta de Samantabhadra, ela deveria ser constante por todo tempo, se você está em retiro, em um monastério ou em um vilarejo ou uma cidade. Não deveríamos manter essa conduta esporadicamente. Em outras palavras, o que se quer dizer aqui é que não se deve manter uma conduta cuidadosa em retiro e então ter uma conduta desregrada fora dele. Tchagme Rinpotche diz que isso não é tão difícil. Isso pode soar um pouco difícil, mas de fato não é um estilo de vida extremo. Ele diz que em contrate a isso, fazer muitas promessas é uma causa para danos. Quer dizer, se comprometendo a fazer coisas que você não pode cumprir pode causar mais problemas. Portanto é dito, " Ter poucas promessas e muita prática". Em outras palavras, não prometa mais do que você possa fazer; pratique mais do que você prometeu. Por outro lado, pensar que não se pode fazer muito e ser indolente ou preguiçoso é também uma causa de deterioração.

Outros modos de conduta podem ser uma fonte de grande realização ou progresso se eles são praticados no tempo correto. Se eles são praticados em uma hora errada ou sob condições erradas eles são bastante perigosos e podem ser uma fonte de grande impedimento. " Sob condições erradas" ou " na hora errada " significa quando se é incapaz de fazê-los apropriadamente porque, exceto a conduta do Samantabhadra, outros tipos de conduta requerem condições externas e internas bem específicas. Se todas essas condições ou fatores não estiverem presentes, então esses modos de conduta não funcionarão e serão contraproducentes.

Além disso podemos percorrer todos os caminhos e estágios somente pela conduta de Samantabhadra, mesmo se nunca engajarmos em outro modo de conduta. Isso tem sido provado pela Dagpo Kagyu e é o que a Dagpo Kagyu deixou como sua marca. Que é o fato que este tipo de conduta pode levar-nos ao completo despertar. Por manter a conduta de Samantabhadra, beneficiaremos os ensinamentos do Buddha e a nós mesmos e, devido a virtude de manter os três votos- Pratimoksha, Bodhisattva e Samaya-, teremos êxito na nossa prática do Dharma. Todas as qualidades que obtivermos resultará naturalmente no melhor benefício para outros. Por uma coisa, seremos uma fonte de inspiração para os outros, incluindo nossos patronos. Isso quer dizer que devido a estarmos nos portando de um modo que outras pessoas possam admirar e compreender, não seremos uma causa para outras pessoas desenvolverem antipatia e assim por diante. Portanto devemos praticar continuamente esse modo de conduta.

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