10 de janeiro, 2019 Monlam Pavillion, Bodhgaya
Sessão Três: Visão e Meditação
Kyabje Drubwang Sangye Nyenpa Rinpotche começou o segundo dia de ensinamentos sobre o Ganges Mahāmudrā (Mahāmudrā Upadeśa) resumindo os principais aspectos da primeira sessão da tarde. Dada a sua importância, ele enfatizou novamente as quatro características do aluno a quem pode ser ensinado as instruções profundas. Essas características - suportar sofrimento, devoção ao guru, enfrentar dificuldades e sabedoria inteligente (prajña) - são fundamentais para qualquer aluno que sinceramente tenha no coração que o Mahāmudrā não pode ser mostrado. Usando a analogia do luar oculto pelas nuvens, Rinpotche enfatizou que os obscurecimentos do pensamento também se dissipam da mente iluminando-se a luminosidade básica que está presente em todos nós. Para realmente olhar para o pensamento, é necessário desenvolver uma certeza para se repousar nessa natureza inexprimível da mente. O aluno deve considerar a natureza do pensamento como uma ajuda para a prática em si. Rinpotche aludiu e citou o nono capítulo sobre a Sabedoria do Caminho do Bodhisattva, de Shantideva (Bodhisattvacaryāvatāra), no qual se afirma que o antídoto é a meditação e a análise. Através da prática da meditação, podemos ver que os pensamentos não têm base. Essa é a auto-liberação de pensamentos e é semelhante a uma cobra enroscada que desenrola a si mesma. Contudo, o empenho é uma necessidade e devemos desenvolver diligência para tornar nossos pensamentos um aspecto de nossa prática. Rinpotche então mudou para o próximo verso que ele havia tocado previamente na primeira parte da sessão da tarde. Aqui, ele destacou que a mente e a aparência não são dois. Como o verso afirma,
A natureza do espaço transcende cor e forma, Nem maculada nem alterada por preto ou por branco. Da mesma forma, a essência da sua mente transcende cor e forma, Despoluída de qualidades pretas ou brancas, defeitos ou virtudes.
Milarepa, observou ele, usou a natureza do espaço como a melhor analogia, uma vez que transcende as características. Da mesma forma, a essência da mente transcende a cor e a forma e é luminosa em sua natureza. Recapitulando novamente o Bodhisattvacaryāvatāra de Shantideva, Rinpotche observou que este texto enfatiza vários passos para perceber a natureza da mente, em particular cultivando bodhicitta. Por exemplo, quando desenvolvemos as qualidades da mente da iluminação (bodhicitta), isso incentiva a motivação de se envolver na prática, o que exige confessar nossas más ações levando-nos a tomar votos de bodhisattva. Quando promulgamos esses votos, é necessário manter a consciência e usar a atenção plena que nos permite regozijar na natureza luminosa de nossa mente. Nós devemos aplicar o antídoto que é meditação e análise. Mais importante ainda, nesta preciosa existência humana, não devemos desperdiçar esta oportunidade da mente. Seguindo a agitação de uma pausa para o butter-tea (chá-de-manteiga), definido para os umzes e outros participantes recitando Tara Verde, Rinpotche concluiu a sessão com ênfase em três pontos principais: Visão, Meditação e Conduta. Estes devem tornar-se inseparáveis da nossa prática e do caminho. A Visão leva em conta a inseparabilidade da mente e da aparência. Se meditarmos em nossa visão verdadeira, ele observou, então o que estamos vendo são as projeções que são mente, tudo que é agradável e desagradável. Temos que cortar o apego dualista e a fixação nas coisas como verdadeiramente existentes. Por exemplo, sabemos que ganância e delusão não são a natureza, já que são removíveis. Elas surgem e cessam. Nós olhamos para a natureza da delusão e então os pensamentos errôneos desaparecem.
Isto vem diretamente do próprio texto, onde Rinpotche esclareceu que devemos nos libertar de pensamentos dualísticos sutis, ou então não podemos desenvolver o Mahāmudrā nem o poder da mente para realizar a bem-aventurança indivisível do samsara e do nirvana. Citando o verso seguinte, ele leu:
Assim como a brilhante e clara essência do sol Não pode ser obscurecida pela escuridão de milhares de eons, Da mesma forma, a essência luminosa da sua mente Não pode ser obscurecida por eons de samsara.
Em relação a esta última linha, Rinpotche enfatizou que a essência luminosa da mente não pode ser obscurecida por eons de samsara. "A sabedoria coemergente da mente não é obscurecida se você conhece a natureza do samsara, então isso é o nirvana", afirmou. Outra prática para perceber a natureza da mente é o Tchöd, já que seu aspecto é cortar através da fixação ao Eu. Ao cortar o apego ao Eu, vemos que os pensamentos não são verdadeiramente existentes em si e por si mesmos. Esta é de fato a auto-liberação .
Com os próximos dois versos, ele continuou a elaborar sobre a Visão, a natureza essencial da mente, que corta as projeções e conhece todos os fenômenos como vacuidade. De fato, as aparências são mente e a mente é vacuidade. Precisamos ter confiança nesta visão para termos uma compaixão luminosa que é onipresente. No entanto, se pensarmos que os seres sencientes e o sofrimentos são verdadeiramente existentes, precisamos treinar na prática de trocarmos a nós mesmos pelos outros (tong-len). Então, seremos capazes de ver que devemos ter prajña. A Visão e a Meditação precisam se unir e progredir juntas. A meditação não deve ser nem distração nem fixação. Estes dois, Visão e Meditação, servem de base para a Conduta que Rinpotche elaborou na sessão da tarde.
Sessão Quatro: Demonstrando o Não surgimento na Conduta
Na sessão da tarde no Ganges Mahāmudrā (Mahāmudrā Upadeśa), Kyabje Drubwang Sangye Nyenpa Rinpotche continuou seu ensinamento falando sobre a conduta. Na sessão da manhã, ele falou sobre a visão e a meditação no não-surgimento e não-fixação. Conduta é o que se manifesta naturalmente a partir dessa visão e meditação. Rinpotche disse que “para manifestar não-surgimento, precisamos seguir os estágios do caminho para perceber isso”.
Um dos primeiros pontos discutidos por Rinpotche foi a importância de não se apegar aos seus próprios pontos de vista e menosprezar as opiniões dos outros. Esse tipo de pensamento leva a julgamento e fixação, o que está diretamente em desacordo com o cultivo de uma mente liberada e a manifestação da atividade liberada. Eliminar o apego aos seus próprios pontos de vista e eliminar a rejeição à outras visões faz de você um yogue, disse ele.
Referindo-se a este ponto, Rinpotche falou sobre como se relacionar com os pensamentos. Especificamente, Rinpotche ensinou que se vermos os pensamentos como um problema e a vacuidade como uma qualidade, não há como nos liberarmos. Este é novamente um tipo de julgamento e não o entendimento correto da vacuidade. "Na verdade, não há julgamento", disse Rinpotche. Para entender este ponto, Rinpotche disse que você precisa ter confiança na vacuidade. Essa certeza surge de dentro, da meditação e não pode vir de fora. Ele enfatizou que você não pode ser liberado apenas por palavras. Para manifestar certeza sobre a vacuidade, você deve meditar sem julgamento ou fixação. Além disso, disse ele, "deixe as idéias de meditador e não-meditador liberarem-se por si mesmas."
Rinpotche então falou sobre como levar as atividades comuns para o caminho através da meditação sem distrações. Especificamente, ele disse que se formos capazes de permanecer em consciência plena não-distraída, e auto-liberar nossos pensamentos o tempo todo, não importa se estamos em uma caverna ou na cidade. Entrar na solidão pode nos ajudar a domar a mente, mas em última análise precisamos manter a visão e a meditação em todas as atividades, em qualquer circunstância. Rinpotche citou uma linha do texto que ele também havia discutido na sessão da manhã: “a essência luminosa da sua mente; Não pode ser obscurecida por eons de samsara”. Nesse caso, ele enfatizou que a essência luminosa da mente existe em todas as atividades e situações; o ponto chave é não perder o foco dela. Para ilustrar o que é dito por não-distração, Rinpotche deu o exemplo de um pastor e suas ovelhas. Um pastor está sempre checando para ter certeza que as ovelhas estão lá. Similarmente, nós deveríamos sempre estar checando se nós reconhecemos a essência luminosa da nossa mente. Nós podemos fazer isso enquanto nós comemos, enquanto conversamos, fazendo qualquer trabalho ou até mesmo dormindo.
Enquanto estamos fazendo essa prática, Rinpotche disse que é importante que você nunca mostre aos outros que é um grande meditador. Sua conduta precisa estar de acordo com a sociedade e as pessoas comuns. Então, Rinpotche disse: "Quando você está por si mesmo, você é como um tigre pulando". Este é o caminho dos Kadampas. Ele resumiu dizendo que a chave para a conduta é ser desapegado. A visão e a meditação sobre a não-fixação e não-apego são os auxílios à nossa conduta e nos ajudam a não ter uma conduta ultrajante.
Rinpotche então deu então uma instrução essencial adicional em como praticar em meditação e conduta. Ele disse, “Quando você está meditando, olhe para ver se o objeto no qual você está meditando e a mente meditando são dois. Quando essa dualidade se dissolve então não há mais meditação e pós-meditação, há apenas consciência plena em todas as atividades. Fique repousado completamente, qualquer coisa que surgir, apenas deixe ser. Então, automaticamente, a sua mente estará em consciência plena dia e noite”. Mais uma vez, Rinpotche enfatizou que não é importante o que as outras pessoas vejam e enxerguem, e o que importa é a nossa própria experiência. Durante todas as atividades, seja sozinho ou em meio a uma multidão, devemos praticar a meditação e a conduta. Ninguém deveria saber que estamos fazendo isso. Em seguida, Rinpotche falou sobre a importância de podermos verificar nossas próprias experiências com um guru realizado. Ele aconselhou que quando surgissem problemas, deveríamos consultar um guru para verificar se nossas experiências eram boas ou ruins. Dessa forma, nós progrediremos. Caso contrário, poderíamos nos perder. Ele disse que esse tipo de conselho é impossível de se obter nos livros; deve vir de um guru que tenha realização.
Rinpotche concluiu a sessão da tarde reiterando os pontos-chave de como realizar a conduta no Mahāmudrā. Primeiro, ele disse, o guru precisa apontar a natureza da sua mente. Em seguida, temos que cultivar a mente que não tem intenção. Precisamos entender essa visão e cortar nossas projeções. Então precisamos nos habituar a essa visão. Rinpotche disse: "nirvana significa ser imaculado." Estar habituado em "nenhuma intenção" é o que se entende por não maculado, ele explicou. Em outras palavras, reconhecer que fenômenos relativos são interdependentes e não existem inerentemente. Entendendo essa visão, meditação e conduta, é possível tornar-se totalmente liberado do samsara.